sexta-feira, 7 de setembro de 2012

Política como arte

By Irenaldo Araújo   Posted at  20:25   No comments

Quando criança tinha medo da palavra arte, considerando que ao ter a ousadia de fazê-la poderia implicar em castigos. Naquele contexto, tal palavra estava associada à traquinagem: alguém que fazia algum tipo de arte poderia e deveria ser punido.

Mais tarde passo a entender outros sentidos da palavra arte e, neste caso, até um sentido nobre, pois que a produzia eram os doutos. Quantos suspiros não eram dados a partir da contemplação de uma obra de arte: uma bela música, uma pintura, um bom livro... (estas obras eram tão belas que, mesmo quando você não entendia, em tal realidade, era desafiado a também suspirar pelo belo!).

Em nosso contexto, o tempo vai ajudando a compreender melhor a força das palavras e a perceber o quanto as pessoas se apropriam delas, chegando até a utilizá-las como artimanha ideológica. Por exemplo: quando vejo um alguém dizer que a didática é arte de ensinar, suspiro de alegria. Poxa! Ensinar é uma arte! E que arte nobre! Mas alguns teóricos mais críticos que nos provocam a entender o caráter ideológico das palavras, dize-nos que depende de quem ensina a arte pode ter o significado presente no primeiro ou no segundo parágrafo deste texto.

O mesmo ocorre com a palavra política. Aprendemos em Filosofia a necessidade de compreender a política como arte. Pois conforme a etimologia grega, política terá vindo “de Politika, o plural neutro de politikós, as coisas políticas; de Politeia, o regime político, o direito dos cidadãos; ou de politikè, como mistura de polis+ technè, a arte política”*. Com os romanos “Politika transforma-se em res publica, com Cícero a identificar tal conceito com o de politeia’*. Assim, a política vai sendo entendida como uma arte que está a serviço da pólis, do bem comum.

Conforme Rodrigues*, o quanto é belo contemplar a arte da política, pois a sua existência está para o bem comum, para o bem da polis, para garantir o bem estar dos cidadãos e das cidadãs. Entretanto, há quem queira transformar a política em outro tipo de arte, aquela que está associada ao entendimento do primeiro parágrafo do presente texto: arte como coisa feia. E mesmo havendo punição para quem faz este tipo de arte, especialmente a partir da Lei da Ficha Limpa, há quem insista transformar a política não numa arte a serviço do bem comum, mas numa arte a serviço de grupos ou interesses privados.

Na atualidade, um dos desafios para que a política seja uma arte a serviço do bem comum pode ser observado na forma como são financiadas as campanhas, passando a ter um peso diferenciado àquelas pessoas que são escolhidas para representarem determinados grupos particulares, pois passam a ter uma campanha com grandes investimentos de mídia, com profissionais contratados para passar uma boa imagem dos seus candidatos, com dinheiro para presentear aquelas pessoas que ainda parecem indecisas. E a política vai se transformando numa forma de investimento, um investimento espúrio, pois de quem são investidos milhões para se eleger, não se pode esperar muito quanto assumir a gestão pública.

Os Tribunais Eleitorais têm trabalhado muito para garantir que as eleições sejam transparentes, punindo os chamados “fichas sujas”, mas cada vez mais há um aperfeiçoamento nas formas de driblar a justiça. Há quem trabalhe, de forma astuta, para convencer “galinhas” a votar em “raposas”: nem que para isso estes quadrúpedes não apareçam. Neste sentido, estes carnívoros selvagens vêm renovando suas garras, fortalecendo suas alianças, conseguindo formas diversas de investimentos: o importante é a manutenção do poder, não importando os meios. Neste sentido, o importante é convencer as “galinhas” que as forças utilizadas são lícitas, que os bens declarados são legais e que eleitos vão trabalhar na defesa daquilo que é público (res publica).

Grande desafio é a não capacidade de se utilizar a razão crítica para o entendimento das diferentes formas de entender a política. As pessoas se envolvem emocionalmente, passam a compreender que é uma disputa em cores, os ânimos são acirrados, aparecem as apostas, as campanhas vão ficando cada vez mais caras... e quem perde com isso é a democracia.

É preciso que o idealismo reacenda, no sentido de compreender a política não como arte (astúcia), mas como arte (zelo pela res publica).

 

*Rodrigues, J. Política: etimologia. Disponível em: < http://farolpolitico.blogspot.com.br/2007/04/poltica-etimologia.html> Acesso: 07 set 2012, 19:39

Sobre Irenaldo Araújo

Educador, graduado em Pedagogia e Especialista em Psicopedagogia, pelas Faculdades Integradas de Patos; Especialista em Educação Ambiental e Sustentabilidade, pela Universidade Federal de Campina Grande; Mestre em Ciências Florestais, pelo Programa de Pós-graduação em Ciências Florestais, da Universidade Federal de Campina Grande; Doutorando em Educação, pelo Programa de Pós-graduação em Educação, da Universidade Federal da Paraíba (Campus I).usto.
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