Aprendemos com a tradição judaico-cristã que Páscoa quer dizer passagem, saída, ou melhor, passagem da vivência de uma situação de escravidão/opressão/morte para uma situação de libertação. É o que se canta nas liturgias pascais: a vitória da vida sobre a morte. A celebração da Páscoa, portanto, é um ato político, é o resgate das utopias, é a crença de que vale a pena a luta pela implantação de estruturas justas na sociedade.
Entretanto, a celebração da Páscoa vem sendo resumida: 1) a uma lógica consumista, em que a figura central passa a ser o consumo de chocolate, em formato de ovo, e o vivente que está no centro é a figura de um coelho; 2) a um feriadão em que as pessoas se encontram para afogarem suas mágoas no consumo de bebidas alcoólicas; 3) a celebrações que mais parecem ser o resgate de um evento histórico, descontextualizado do aspecto político-libertador, em que os gritos de aleluia mais parecem uma necessidade rubricista, do que uma expressão existencial de se acreditar na possibilidade de se passar de situações injustas para estruturas em que não hajam discriminações.
É necessário que se resgate a celebração da Páscoa o seu aspecto político e que se traga para o centro as lutas que expressam a força da organização popular e o sonho da construção de uma sociedade marcada por estruturas justas: as conquistas dos trabalhadores e trabalhadoras sem terra; dos agricultores e agricultoras que passam a produzir sem o uso de insumos químicos; das mulheres que lutam por igualdade de direitos na sociedade; das comunidades quilombolas e indígenas que se assumem como tal e passam a lutar pela melhoria da sua qualidade de vida…
Vale a pena compreender que cada conquista antecede um sentimento de luta; de tomada de consciência; da certeza de que não dá mais! Diante desta realidade, as pessoas e grupos sociais começam a construir sua páscoa, sua passagem de uma situação de morte para uma situação de dignidade. Neste sentido, a celebração da Páscoa passa a ter um forte significado de intervenção social.
Celebrar a Páscoa é desejar que as pessoas e grupos sociais adquiram este sentimento de indignação por tudo aquilo que lhes torna menos gente e que degrada o ambiente em que se vive. Ao mesmo tempo, as pessoas e grupos sociais começam a se alegrar pelas conquistas, frutos desta indignação ética e a identificá-las no meio em que vivem.
É com este sentimento que desejamos a todas as pessoas uma Feliz Páscoa!
Irenaldo Pereira de Araújo
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