Sex, 29 de Julho de 2011 14:26
Uma iniciativa histórica da Universidade Estadual da Paraíba em parceria com o Governo do Estado tem em vista promover, já a partir do próximo semestre, uma mudança fundamental no quadro do analfabetismo na Paraíba.
A Resolução nº 020/2011, aprovada recentemente pelo Conselho de Ensino, Pesquisa e Extensão (Consepe), promete preparar os graduandos – futuros professores de Licenciatura – como agentes de letramento, diante das novas exigências didático-metodológicas sobre os processos de ensino e aprendizagem da leitura e escrita que extrapolam o âmbito da alfabetização.
Conforme o documento será criado em caráter obrigatório, nos cursos de Licenciatura da UEPB, o componente curricular “Fundamentos Teóricos e Metodológicos do Letramento”, a partir do qual o aluno desenvolverá, em sala de aula e por meio de trabalho de campo, atividades de letramento de jovens e adultos.
De acordo com o pró-reitor de Ensino de Graduação, professor Eli Brandão, o projeto vai além da alfabetização pura e simples e funcionará como um instrumento capaz de formar o aluno como um cidadão de fato, através da apropriação da língua em suas funções social e política e sua libertação da condição de excluído de espaços onde predomina o uso da linguagem escrita.
Aliada às iniciativas do Governo do Estado e tentativas de melhoria nos cursos de formação dos docentes, remuneração adequada e capacitação continuada, a UEPB assumirá com a disponibilização de seu corpo discente uma decisão de significado social e prestará sua contribuição com a oferta de cursos e professores que podem ser empregados nesta ação permanente.
Prática contínua
Diante da nova resolução, a reitora da UEPB, professora Marlene Alves Sousa Luna lembrou que, ao longo dos anos, todos acompanharam as tentativas do Brasil de acabar com o analfabetismo através de programas direcionados a esse fim. “Todavia, não há uma política permanente nesse sentido. Por meio desse componente curricular poderemos dispor de um corpo potencial de agentes de letramento e dar nossa contribuição de modo mais efetivo para a democratização do saber”, ressaltou.
Desde o ano passado, a criação do novo componente curricular nos cursos de Licenciatura vem sendo discutida na UEPB, sempre no intuito de dar um passo efetivo na área da Educação e abrir uma porta mais larga para a alfabetização no país, começando, a princípio, pelo Estado da Paraíba.
O mais importante é que o novo projeto político-pedagógico será executado em caráter permanente pela Instituição, que se comprometeu com o engajamento contínuo na erradicação do analfabetismo no Estado. “Este programa continuará daqui a cinco, dez, vinte anos... Mais do que um projeto provisório, que se encerra em uma gestão, ele coloca a Universidade na meta de assumir continuamente metodologias práticas em seu propósito e buscará incentivar a sociedade a também se comprometer com este problema nacional”, aprofundou o pró-reitor Eli Brandão, que acrescentou: “as novas gerações de graduandos poderão olhar para trás e ver que em muito puderam contribuir com o projeto de erradicação do analfabetismo na Paraíba”.
Segundo o secretário de Educação do Estado da Paraíba, professor Afonso Celso Scocuglia, "o analfabetismo de jovens e adultos é uma dívida que, há muito, precisamos enfrentar". A implementação deste projeto pela UEPB está sendo aguardada por outros secretários, que também querem utilizar a ideia em seus estados.
Analfabetismo: um problema histórico
O histórico de analfabetismo no Estado da Paraíba demonstra uma situação que urge correção, já que o índice de pessoas acima dos 60 anos que afirmam não ter instrução alguma, ou que acumularam ao longo da vida apenas um ano de estudo, chega quase à metade da população nesta idade.
Com raríssimas exceções, são pessoas que dedicaram boa parte da vida ao trabalho, muitas vezes em subempregos. A situação familiar de precisar suprir as necessidades mais básicas e, à época, a falta de exigência de qualificação profissional no mercado, forçava o trabalhador a dedicar seu tempo exclusivamente ao trabalho, deixando em segundo plano a sua própria educação.
O exemplo histórico exibe em seu cerne um índice que deve ser continuamente combatido, já que as últimas pesquisas realizadas pelo IBGE em 2009 indicam uma porcentagem ainda elevada (21,9 %) de jovens com idade entre 18 e 24 anos que só trabalham, tendo abandonado os estudos.
O índice se agrava quando se trata do analfabetismo funcional, problema que hoje já atinge 33,4 % das pessoas com 15 anos ou mais na Paraíba. Este índice supera em mais de 10% o número de pessoas na mesma idade sem alfabetização básica.
Segundo definições da Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (UNESCO), enquadra-se como analfabeto funcional toda pessoa que sabe escrever seu próprio nome, lê e escreve frases simples, efetua cálculos básicos, mas é incapaz de interpretar o que lê e de usar a leitura e a escrita em atividades cotidianas, impossibilitando seu desenvolvimento pessoal e profissional.
Em suma, o analfabeto funcional não consegue extrair o sentido das palavras, colocar ideias no papel por meio da escrita, nem fazer operações matemáticas mais elaboradas.
No Brasil, este problema afeta uma grande parcela da população. Calcula-se que até 70% das pessoas acima de 20 anos, em idade economicamente ativa, tenha menos de quatro anos de escolarização e não disponha de acesso ao conhecimento impresso e às novas tecnologias que poderiam melhorar a qualidade de vida e ajudá-las a adaptar-se às mudanças sociais e culturais.
Indicadores de EDUCAÇÃO na Paraíba | Média em porcentagem |
Taxa de analfabetismo de pessoas de 15 anos de idade ou mais | 21,6% |
Taxa de analfabetismo funcional de pessoas de 15 anos ou mais | 33,4% |
Jovens de 18 a 24 anos de idade que só trabalham | 21,9% |
Pessoas de 60 anos ou mais, sem instrução ou menos de 1 ano de estudo | 47,9% |
Taxa de analfabetismo das pessoas de 15 anos ou mais de idade, por cor ou raça – branca | 15,4% |
Taxa de analfabetismo das pessoas de 15 anos ou mais de idade, por cor ou raça – preta | 30,1% |
Taxa de analfabetismo das pessoas de 15 anos ou mais de idade, por cor ou raça – parda | 24,7% |
Fontes: IBGE, Estatísticas do Registro Civil 1999/2008; IBGE, Pesquisa de Informações Básicas Municipais 2009; IBGE, Pesquisa de OrçamentosFamiliares 2008-2009; IBGE, Pesquisa Nacional de Saúde do Escolar 2009; IBGE, Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios 2008/2009.
Giuliana Rodrigues
Postado do site da UEPB.
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