Quarta-feira, 1 de junho de 2011 – 14h24min
por Redação Caros Amigos
Na semana passada, o Brasil foi palco de sucessivas atrocidades contra os movimentos sociais. Além do assassinato do casal de militantes José Cláudio Ribeiro da Silva e Maria do Espírito Santo da Silva - assentados no Projeto Agroextrativista Praialta-Piranheira, em Nova Ipixuna, no estado do Pará, o trabalhador rural Herenilton Pereira foi encontrado morto no mesmo assentamento do casal dia 28 de maio, e estava desaparecido desde o dia 26.
O casal foi brutamente assassinado com tiros na cabeça em uma emboscada, quando atravessavam uma ponte a caminho da sede do município. José Cláudio teve sua orelha decepada e levada pelos assassinos "como prova do crime", segundo nota da Comissão Pastoral da Terra de Marabá (CPT - Marabá), que esteve no local do crime. Os dois já haviam comunicado às autoridades e relatado publicamente em video (veja abaixo) as ameaças que recebiam de madeireiros e carvoeiros. O casal realizava denúncias constantes sobre violações à floresta amazônica.
Segundo comunicado do Ministério Público Federal no Pará "o casal havia informado ao MPF em Marabá nomes de madeireiros de Jacundá e Nova Ipixuna que faziam pressão sobre os assentados e invadiam suas terras para retirar madeira ilegalmente. O MPF encaminhou as denúncias à Polícia Federal e ao Ibama e já havia um inquérito aberto investigando várias madeireiras da região." Além disso, o Ibama já tinha realizado vistorias e comprovado a extração ilegal de madeira no local.
Segundo o jornal Diário do Pará o secretário de Segurança Pública, Luiz Fernandes, disse ontem em Marabá que cerca de 50 policiais civis e militares estão na região do crime fazendo buscas pelos criminosos e a Polícia Federal também deve entrar na investigação. Por ordem do Ministério da Justiça, a PF fará uma apuração própria, mas para o secretário isso não impede a cooperação.
No mesmo dia, na Câmara dos Deputados, o texto do novo Código Florestal, que facilita o desmatamento das florestas brasileiras, foi aprovado. O deputado Sarney Filho, em vista do ocorrido, leu no plenário uma nota de solidariedade ao casal e foi recebido com vaias pela bancada ruralista.
Mais assassinatos no campo
No dia da morte do casal, Herenilton e seu cunhado trabalhavam a 5 km do local onde ocorreu o assassinato, às 08h da manhã. Por volta das 8:40h, os dois presenciaram a passagem de dois homens em uma moto. "As descrições da moto, e dos dois motoqueiros, coincidem com informações prestadas à polícia por testemunhas que presenciaram a entrada, no assentamento, de dois pistoleiros horas antes do crime naquela manha de terça-feira", de acordo com nota da CPT - Marabá.
Na sexta-feira, dia 27, o militante Adelino Ramos, Dinho, sobrevivente do Massacre de Corumbiara em 1995, também foi assassinado em Rondônia, no município de Porto Velho. Outro comunicado da CPT relata que Dinho foi morto por um motoqueiro, próximo ao carro da família onde estavam sua esposa e duas filhas e que o militante "vinha denunciando a ação de madeireiros na região da fronteira entre os estados de Acre, Amazônia e Rondônia. Ele e um grupo de trabalhadores reivindicavam uma área nessa região para a criação de um assentamento".
No mesmo dia 27, no Maranhão, o sindicalista e militante quilombola, Almirandi Pereira, sofreu tentativa de assassinato. Um carro parou na porta de sua casa e disparou três tiros. Almirandi está na luta pela titulação do território quilombola do Charco, na região de São Vicente Ferrer (MA), em conflito com Gentil Gomes, pai de Manoel de Jesus Martins Gomes e Antônio Martins Gomes. Os dois foram denunciados pelo Ministério Público Estadual sob a acusação de serem os mandantes do assassinato de Flaviano Pinto Neto, líder do mesmo quilombo, no dia 30 de outubro de 2010.
Hoje, dia 31, a CPT participa de audiência com a ministra da Secretaria Especial dos Direitos Humanos, Maria do Rosário, para discutir a violência no campo e os assassinatos ocorridos na última semana. A coordenação nacional da CPT divulgou Nota Pública sobre os assassinatos, e os dados de pessoas ameaçados de morte desde o ano 2000 que acabaram sendo assassinadas.
Artigo partilhado pelo site do CEBI (Centro Ecumênico de Estudos Bíblicos): http://www.cebi.org.br/noticia.php?secaoId=11¬iciaId=2047
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