Desde a mais remota tradição, Pentecostes é uma festa associada às colheitas agrícolas, momento em que os agricultores se reuniam em mutirão para a colheita dos seus produtos. Enquanto a Páscoa era uma celebração que acontecia na casa, Pentecostes acontecia na roça, no local das colheitas.
Pentecostes é uma das festas judaicas incorporadas pela tradição cristã. Para o cristianismo, Pentecostes é a festa da nova criação, é o transbordar da nova história, como diz no livro da Revelação ou Apocalipse “Eis que faço nova todas as coisas” (Ap 21,5).
Durante a Páscoa, as comunidades cristãs sempre procuraram resgatar o sentido do crer para ver, ou melhor, pela fé identificar sinais do ressuscitado na sociedade em que se vive. E quantos sinais não podem ser resgatados, quantos sinais de vida... e até são estes sinais que passam a alimentar os sonhos e as utopias, combustíveis que alimentam a luta por uma sociedade marcada por justiça social.
Se Pentecostes é a festa das colheitas, então deveríamos estar reunidos para celebrar tudo àquilo que vem sendo conquistado pela teimosia daquelas pessoas que insistem em lutar contra a correnteza deste modelo econômico predador. Além do mais, por ser uma festa de raiz ecumênica, deveria ser transformada num grande ato público em que as pessoas livremente expressariam às suas conquistas, aquilo que vem dando sustentação aos seus ideais. Fico pensando numa grande celebração em praça pública, em que as organizações apresentariam em suas tendas os resultados de suas lutas e conquistas. A partir das visitas as tendas todas as pessoas sairiam fortalecidas para continuar a luta pela defesa do meio ambiente; pela despoluição e revitalização dos nossos rios; pela extinção dos lixões que contaminam o ar, as águas e o solo; pelo fortalecimento da agricultura familiar com base agroecológica... E o mais bonito nessa partilha é que todos fariam em sua própria língua, sem perder a sua identidade, mas todos se entenderiam, ninguém veria o outro como concorrente, como ocorre na Babel do neoliberalismo predador. E aquelas pessoas que ainda não estivessem engajadas sairiam com a certeza de que é preciso fazer parte deste grande mutirão. Neste contexto, todas as pessoas entenderiam que o melhor louvor a Deus é a defesa de sua divina criação e que os verdadeiros adoradores são aquelas pessoas que o fazem em espírito e verdade.
Enquanto isso não acontece... Sonhemos... Mas em mutirão!
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