Diante de quem está necessitado deve-se ou não oferecer algo para
amenizar o seu sofrimento? Há quem diga que não e há quem afirme o contrário! Diante
tais entendimentos, as pessoas se dividem entre a necessidade de se dar o peixe
e a de ensinar a pescar! Mas diante tal polêmica, há ainda quem veja como
necessário o entendimento dos porquês que estão levando ao aumento de pessoas
necessitadas de ajudas emergenciais. E nesta relação, o que é caridade e o que
é assistencialismo.
A solidariedade é
algo inato ao humano. Diante de uma situação ameaçadora, muitas vezes somos
levados quase que instintivamente a partir em direção de quem está necessitado.
Muitas vezes nem sabemos quem é.
O interessante é que
muitas vezes se parte ao outro pela dor sentida, mas quando se trata de pautar
o porquê da dor, é como se nada tivesse a ver com isso. Por exemplo. Muitos partem
na defesa de uma mulher vítima de violência, mas quando se sabe que ali é fruto
de briga de casal, logo se diz: em briga de marido e mulher, não se mete a colher!
Ou então: ao se deparar com alguém faminto, dar o pão parece tudo bem, mas caso
se queira entender o porquê da fome, logo se diz que já está querendo fazer
política!
O sentimento de
ajuda parece ser o mesmo, mas o que difere é a sensibilidade de quem ajuda. Nos
exemplos dados, a diferenciação está entre ficar no socorro imediato ou ajudar
a pessoa a se levantar para que possa caminhar com as próprias forças. Na
primeira situação, quem ajuda se conforma em doar sem procurar entender os
porquês da necessidade: quem doa esboça o sentimento de que já está fazendo a
sua parte, mas o problema pode estar naquele que está necessitado, pois pode
ter feito algo para está merecendo passar por tudo isso.
No outro caso, não
somente se ajuda de forma imediata, mas se procura entender os porquês que ocasionam
tal situação. A pessoa é vista na sua totalidade. O sofrimento por si só é uma
situação de injustiça. O aumento da pobreza, da violência, do abandono, por
exemplo, pode ser um indicativo da ausência do estado, cujas políticas
favorecem o aumento do abismo quanto ao acesso aos recursos produzidos numa
dada sociedade. Neste caso, a economia está para além da defesa da vida.
O sentimento de solidariedade
é instintivo, mas a capacidade de leitura dos fatos exige um pouco mais de
envolvimento com quem sofre ou com a situação que gera tanta dor. Daqui
parte-se para o abismo entre o assistencialismo e a caridade. No primeiro, basta
a ajuda a quem está passando por uma situação de sofrimento. Não existe envolvimento.
É como se quem ajuda não quisesse se misturar com quem sofre: dei a minha ajuda
e pronto! Fiz a minha parte. Muitas vezes há um sentimento de pena, diante do
sofrimento do outro.
Na caridade há um sentimento
de empatia ou de compaixão com quem está vivenciando o sofrimento. A dor do
outro passa a ser parte da preocupação de quem parte para a ajuda. O que está
em jogo é a defesa da vida. Olha-se a pessoa por aquilo que passa no momento. É
o mesmo sentimento apresentado por Jesus diante do homem que sofria às margens
de uma estrada. O homem que parte para ajudar, não apenas cuida das feridas,
mas se importa com o ferido. Tal atitude é tão profunda, que Jesus pede para
que se faça a mesma coisa.
No assistencialismo é como
se a ajuda por si bastasse. Na caridade, não basta a ajuda imediata, mas a situação
que levou ao sofrimento deve ser denunciada. A caridade gera profecia. Numa
época em que se aumenta a cada dia o número de pessoas necessitadas, precisamos
de mais profetas e profetisas