tag:blogger.com,1999:blog-56261540852443498292024-02-07T01:16:07.894-03:00Partilhando Experiências EducativasIrenaldo Araújohttp://www.blogger.com/profile/07086602500925288872noreply@blogger.comBlogger236125tag:blogger.com,1999:blog-5626154085244349829.post-72626888427046681982020-06-20T08:36:00.003-03:002020-06-20T08:36:44.589-03:00Ser solidário é ser humano: do assistencialismo à caridade<br />
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: center;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="color: black; font-family: "Eras Light ITC",sans-serif; font-size: 16.0pt; line-height: 107%;">Diante de quem está necessitado deve-se ou não oferecer algo para
amenizar o seu sofrimento? Há quem diga que não e há quem afirme o contrário! Diante
tais entendimentos, as pessoas se dividem entre a necessidade de se dar o peixe
e a de ensinar a pescar! Mas diante tal polêmica, há ainda quem veja como
necessário o entendimento dos porquês que estão levando ao aumento de pessoas
necessitadas de ajudas emergenciais. E nesta relação, o que é caridade e o que
é assistencialismo.</span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-family: "Eras Light ITC", sans-serif; font-size: 16pt;">A solidariedade é
algo inato ao humano. Diante de uma situação ameaçadora, muitas vezes somos
levados quase que instintivamente a partir em direção de quem está necessitado.
Muitas vezes nem sabemos quem é.</span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-family: "Eras Light ITC", sans-serif; font-size: 16pt; text-indent: 35.4pt;">O interessante é que
muitas vezes se parte ao outro pela dor sentida, mas quando se trata de pautar
o porquê da dor, é como se nada tivesse a ver com isso. Por exemplo. Muitos partem
na defesa de uma mulher vítima de violência, mas quando se sabe que ali é fruto
de briga de casal, logo se diz: em briga de marido e mulher, não se mete a colher!
Ou então: ao se deparar com alguém faminto, dar o pão parece tudo bem, mas caso
se queira entender o porquê da fome, logo se diz que já está querendo fazer
política!</span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-family: "Eras Light ITC", sans-serif; font-size: 16pt;">O sentimento de
ajuda parece ser o mesmo, mas o que difere é a sensibilidade de quem ajuda. Nos
exemplos dados, a diferenciação está entre ficar no socorro imediato ou ajudar
a pessoa a se levantar para que possa caminhar com as próprias forças. Na
primeira situação, quem ajuda se conforma em doar sem procurar entender os
porquês da necessidade: quem doa esboça o sentimento de que já está fazendo a
sua parte, mas o problema pode estar naquele que está necessitado, pois pode
ter feito algo para está merecendo passar por tudo isso.</span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-family: "Eras Light ITC", sans-serif; font-size: 16pt;">No outro caso, não
somente se ajuda de forma imediata, mas se procura entender os porquês que ocasionam
tal situação. A pessoa é vista na sua totalidade. O sofrimento por si só é uma
situação de injustiça. O aumento da pobreza, da violência, do abandono, por
exemplo, pode ser um indicativo da ausência do estado, cujas políticas
favorecem o aumento do abismo quanto ao acesso aos recursos produzidos numa
dada sociedade. Neste caso, a economia está para além da defesa da vida.</span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="color: black; font-family: "Eras Light ITC",sans-serif; font-size: 16.0pt; line-height: 107%;">O sentimento de solidariedade
é instintivo, mas a capacidade de leitura dos fatos exige um pouco mais de
envolvimento com quem sofre ou com a situação que gera tanta dor. Daqui
parte-se para o abismo entre o assistencialismo e a caridade. No primeiro, basta
a ajuda a quem está passando por uma situação de sofrimento. Não existe envolvimento.
É como se quem ajuda não quisesse se misturar com quem sofre: dei a minha ajuda
e pronto! Fiz a minha parte. Muitas vezes há um sentimento de pena, diante do
sofrimento do outro.</span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-family: "Eras Light ITC", sans-serif; font-size: 16pt; text-indent: 35.4pt;">Na caridade há um sentimento
de empatia ou de compaixão com quem está vivenciando o sofrimento. A dor do
outro passa a ser parte da preocupação de quem parte para a ajuda. O que está
em jogo é a defesa da vida. Olha-se a pessoa por aquilo que passa no momento. É
o mesmo sentimento apresentado por Jesus diante do homem que sofria às margens
de uma estrada. O homem que parte para ajudar, não apenas cuida das feridas,
mas se importa com o ferido. Tal atitude é tão profunda, que Jesus pede para
que se faça a mesma coisa.</span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-family: "Eras Light ITC", sans-serif; font-size: 16pt; text-indent: 35.4pt;">No assistencialismo é como
se a ajuda por si bastasse. Na caridade, não basta a ajuda imediata, mas a situação
que levou ao sofrimento deve ser denunciada. A caridade gera profecia. Numa
época em que se aumenta a cada dia o número de pessoas necessitadas, precisamos
de mais profetas e profetisas</span></div>
<br />Irenaldo Araújohttp://www.blogger.com/profile/07086602500925288872noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-5626154085244349829.post-62937403448257583032015-04-20T11:52:00.004-03:002015-04-20T12:09:01.164-03:00A falência de um modelo<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEg50d2MAJxRqwJeCne-6hMDkRFxoZjM4RMzMXwj7nT184BnC-2w8OP_tRnH9l-uuFygBU6BH7Gk-zmw_p04MFc0vFrCZlC_TVhD8w7vzkwqM7jo49rsb-NWhoahVwjQ9ehrwtj9UxR8FiA/s1600/Falencia+de+um+modelo.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEg50d2MAJxRqwJeCne-6hMDkRFxoZjM4RMzMXwj7nT184BnC-2w8OP_tRnH9l-uuFygBU6BH7Gk-zmw_p04MFc0vFrCZlC_TVhD8w7vzkwqM7jo49rsb-NWhoahVwjQ9ehrwtj9UxR8FiA/s1600/Falencia+de+um+modelo.jpg" height="480" width="640" /></a></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="color: #444444;">Há 33 países hoje à beira da instabilidade social devido à falta e ao preço dos alimentos, resultado direto do atual modelo industrial de agricultura dependente do petróleo.</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="color: #444444;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="color: #444444;">A agricultura mundial está numa encruzilhada. A economia global impõe demandas conflitantes sobre os 1,5 bilhão de hectares cultivados. Não só se pede à terra agrícola que produza alimento suficiente para uma população crescente, mas também que produza biocombustíveis, e que faça isso de um modo que seja saudável para o meio ambiente, preservando a biodiversidade e diminuindo a emissão de gases de efeito estufa, e que, ainda, seja uma atividade economicamente viável para os agricultores.</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="color: #444444;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="color: #444444;">Essas pressões estão desencadeando uma crise sem precedentes no sistema alimentar global, que já começa a se manifestar em protestos por escassez de alimentos em muitos países da Ásia e da África. De fato, há 33 países à beira da instabilidade social devido à falta e ao preço dos alimentos. Essa crise que ameaça a segurança alimentar de milhões de pessoas é o resultado direto do modelo industrial de agricultura, que não só é perigosamente dependente de hidrocarburos, mas tem, ainda, se tornado a maior força antrópica modificadora da biosfera. As crescentes pressões sobre a área agrícola —que está se reduzindo— estão minando a capacidade da natureza de suprir as demandas da humanidade quanto a alimentos, fibras e energia. A tragédia é que a população humana depende dos serviços ecológicos (ciclos de água, polinizadores, solos férteis, clima local benevolente, etc.) que a agricultura intensiva continuamente empurra para além de seus limites.</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="color: #444444;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="color: #444444;">Antes do fim da primeira década do século XXI, a humanidade está tomando consciência rapidamente de que o modelo industrial capitalista de agricultura dependente de petróleo não mais funciona para suprir os alimentos necessários. Os preços inflacionários do petróleo inevitavelmente aumentam os custos de produção e os preços dos alimentos subiram a tal ponto que hoje um dólar compra 30% menos alimento do que há um ano. Uma pessoa na Nigéria gasta 73% da sua renda em alimento, no Vietnã 65% e na Indonésia 50%. Essa situação está piorando rapidamente, na medida em que a terra agrícola vai sendo destinada para biocombustíveis e na medida em que a mudança climática afeta o rendimento da terra pelas estiagens ou inundações.</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="color: #444444;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="color: #444444;">Expandir terras agrícolas destinadas a biocombustíveis ou cultivos transgênicos, que já tomam 120 milhões de hectares, vai exacerbar os impactos ecológicos de monocultivos que continuamente degradam os serviços da natureza. Além disso, a agricultura industrial hoje contribui com mais de 1/3 das emissões globais de gases de efeito estufa, especialmente metano e óxidos nitrosos. Continuar com esse sistema degradante, como promove um sistema econômico neoliberal, ecologicamente desonesto por não refletir as externalidades ambientais não é uma opção viável.</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="color: #444444;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="color: #444444;">O desafio imediato de nossa geração é transformar a agricultura industrial e iniciar uma transição dos sistemas alimentares para que não dependam de petróleo.</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="color: #444444;">Precisamos de um paradigma alternativo de desenvolvimento agrícola, que propicie formas de agricultura ecológica, sustentável e socialmente justa. Redesenhar o sistema alimentar para formas mais eqüitativas e viáveis para agricultores e consumidores vai requerer mudanças radicais nas forças políticas e econômicas que determinam o que vai ser produzido, como, onde e para quem. O livre comércio sem controle social é o principal mecanismo que está expulsando os agricultores de suas terras e é o principal obstáculo para alcançar desenvolvimento e uma segurança alimentar local. Só desafiando o controle que as empresas multinacionais exercem sobre o sistema alimentar e o modelo agroexportador patrocinado pelos governos neoliberais será possível deter a espiral de pobreza, fome, migração rural e degradação ambiental.</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="color: #444444;">O conceito de soberania alimentar, tal como é promovido pelo movimento mundial de pequenos agricultores, a Via Campesina, constitui a única alternativa viável para o sistema alimentar em colapso, que simplesmente falhou em seu cálculo de que o livre comércio internacional seria a chave para solucionar o problema alimentar mundial. Pelo contrário, a soberania alimentar enfatiza circuitos locais de produção-consumo e ações organizadas para obter acesso à terra, água, agrobiodiversidade, etc., recursos fundamentais que as comunidades rurais devem controlar para conseguir produzir alimentos com métodos agroecológicos.</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="color: #444444;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="color: #444444;">Não há duvida que uma aliança entre agricultores e consumidores é de importância estratégica. Ao mesmo tempo que os consumidores devem descer na cadeia alimentar ao consumir menos proteína animal, precisam tomar consciência de que sua qualidade de vida está intimamente associada ao tipo de agricultura que é praticada nos cordões verdes que circundam povoados e cidades, não só pelo tipo e qualidade de cultivos que aí são produzidos, mas pelos serviços ambientais, como qualidade da água, microclima e conservação da biodiversidade, etc., que esta agricultura multifuncional proporciona.</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="color: #444444;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="color: #444444;">Mas a multifuncionalidade só emerge quando as paisagens estão dominadas por centenas de sítios pequenos e biodiversos, que, como os estudiosos demonstram, podem produzir entre duas e dez vezes mais por unidade de área do que as fazendas de grande escala. Nos Estados Unidos os agricultores sustentáveis, em sua maioria pequenos e médios agricultores, geram uma produção total maior que os monocultivos extensivos, e fazem isso reduzindo a erosão e conservando melhor a biodiversidade. As comunidades rodeadas por pequenos sítios apresentam menos problemas sociais (alcoolismo, drogadição, violência familiar, etc.) e economias mais saudáveis que comunidades rodeadas por fazendas grandes e mecanizadas.</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="color: #444444;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="color: #444444;">No estado de São Paulo, no Brasil, cidades rodeadas por grandes extensões de cana-de-açúcar são mais quentes do que cidades rodeadas por propriedades médias e diversificadas. Deveria ser óbvio, então, para os consumidores urbanos, que comer constitui ao mesmo tempo um ato ecológico e político, pois ao comprar alimentos em mercados locais ou feiras de agricultores, há um retorno a um modelo de agricultura adequada para a era pós-petroleira, enquanto ao comprar nas grandes redes de supermercados, perpetua-se o modelo agrícola não sustentável.</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="color: #444444;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="color: #444444;">A escala e urgência do desafio que a humanidade enfrenta é sem precedentes e o que é preciso fazer é ambiental, social e politicamente possível. Erradicar a pobreza e a fome mundial requer um investimento anual de aproximadamente 50 bilhões de dólares, uma fração se comparado com o orçamento militar mundial, que chega a mais de um trilhão de dólares por ano. A velocidade com que essa mudança deve ser implementada é muito rápida, mas o que está em questão é se existe realmente vontade política de transformar radical e velozmente o sistema alimentar, antes que a fome e a insegurança alimentar alcancem proporções planetárias irreversíveis.</span></div>
<span style="color: #444444;"><br /></span>
<div style="text-align: right;">
<span style="color: #444444;">Por Miguel A. Altieri*</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="color: #444444; font-size: x-small;">*Miguel A. Altieri é professor na Universidade da Califórnia (Berkeley) e membro da Sociedade Científica Latino-americana de Agroecologia (Socla). Tradução de Naila Freitas / Verso Tradutores. Publicado na Carta Maior. Reprodução autorizada, citando-se a fonte. (Carta Maior/EcoAgência) Fonte: Envolverde/Ecoagência© Copyleft - É livre a reprodução exclusivamente para fins não comerciais, desde que o autor e a fonte sejam citados e esta nota seja incluída.</span></div>
Irenaldo Araújohttp://www.blogger.com/profile/07086602500925288872noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-5626154085244349829.post-25380461558919121352015-04-20T11:50:00.002-03:002015-04-20T12:11:18.902-03:00Teve copa: e agora? (Copa da Fifa, protestos e eleições)<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhtYNOsGzafJrAoyhIYLMFKJSQguQOmicIXgHvVczpZRclHQPgSvhGe1Q24apZ2MHgk6g5L4LV2nBFqrMb9FlyzuMxFPfngNiwPiUT0ILhUhztjSCymFq-nD9jImuGVGhuFyDQszwdc_Js/s1600/teve+copa.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhtYNOsGzafJrAoyhIYLMFKJSQguQOmicIXgHvVczpZRclHQPgSvhGe1Q24apZ2MHgk6g5L4LV2nBFqrMb9FlyzuMxFPfngNiwPiUT0ILhUhztjSCymFq-nD9jImuGVGhuFyDQszwdc_Js/s1600/teve+copa.jpg" height="424" width="640" /></a></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="color: #444444;"><br /></span>
<span style="color: #444444;"><br /></span>
<span style="color: #444444;">Há dois anos, ninguém, do governo ou da oposição, era contra realização, no Brasil, da Copa do Mundo de Futebol da FIFA. Lembram da vibração do governo, políticos e empresários? Todos previam e desejavam vantagens econômicas e políticas. Não se esperava que, tão cedo, aparecesse o fantasma de junho de 2013 anunciando: NÃO VAI TER COPA. Medrosos e astutos, os ratos começaram a pular de um navio ameaçado, sem desistir, entretanto, de tirar vantagens possíveis do desastre.</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="color: #444444;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="color: #444444;">A FIFA nunca duvidou de que o governo brasileiro utilizaria a persuasão e as forças armadas para garantir realização da COPA. Não foi pouco o quanto a FIFA ganhou com isenção de impostos, venda de ingressos e exclusividade nas lanchonetes e bares das arenas. E quanta gente trabalhou de graça para a FIFA em todas as arenas? Copa das Copas! A emoção de uma nação é uma enorme mercadoria. Com quem no Brasil e no exterior a FIFA distribuiu o tanto de dinheiro que ela recebeu do trabalho pago e não pago dos trabalhadores brasileiros?</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="color: #444444;">Os empresários brasileiros, exceto os da CBF, talvez não tiraram tanto proveito econômico da Copa. Os seus representantes, políticos de oposição ao governo, de olhos fixos nas próximas eleições, os mesmos que já tinham saltado do navio que parecia inseguro, tentaram faturar um previsível desgaste político do governo. Já não eram ratos pulando do navio, agora eram urubus esperando a morte de sua presa. Foi um tempo feio de críticas a agouro à Copa. Aqueles xingamentos à presidenta da República, na abertura dos jogos, pareciam expressar mais ódio e intolerância do que descontentamento político. E causaram medo por trazer à lembrança que a violência fascista e nazista tem sua origem na intolerância com as diferenças.</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="color: #444444;">E os grupos que gastaram tanta energia com a campanha NÃO VAI TER COPA? Possivelmente cometeram dois equívocos. Não tomaram em consideração tudo o que, de modo consciente, subconsciente e inconsciente significa o futebol e uma Copa do Mundo. Ainda se está longe de conhecer a origem das emoções causadas pelo futebol. Seriam suas táticas e estratégias? A cooperação entre jogadores, equipes técnicas e serviços? Seria a bela coreografia? O corpo dos atletas teria alguma importância? Não seria também a competição entre grupos e nações? Não estão embutidos, nos passes e chutes tão certeiros, uma infinidade de cálculos instantâneos, matemáticos, físicos, afetivos e dispêndio de energias de tantas ordens? E o que mais?</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="color: #444444;">A todos que tenham uma proposta ou uma concepção de mundo e que queiram torná-las mais coletivas, convém lembrar que está fadado ao fracasso quem não toma em consideração o sentir, pensar, querer, agir e se expressar de pessoas e grupos que se quer atingir numa proposta de intervenção. E teria chances de sucesso quem consegue tocar a alma das pessoas e grupos, cujos comportamentos e valores se pretenda modificar ou perpetuar.</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="color: #444444;">O outro possível equívoco cometido na campanha NÃO VAI TER COPA seria explicado, por Gramsci, enorme autor italiano. Ele passou a vida, de 1920 a 1936, tentando conhecer e viver a teoria, as estratégias e táticas de mudança, no atual estágio de desenvolvimento do capitalismo, estágio definido pelas parcerias, alianças e enfretamentos dos muitos interesses dos grupos todos das sociedades atuais. Gramsci faz uma diferença entre luta cultural e luta política. Na luta cultural ele aconselha a atacar imediatamente os inimigos mais fortes que são os grandes autores que fazem a cabeça de muitos seguidores e repetidores. Caindo os grandes opositores, os pequenos (seguidores e repetidores) não se sustentarão. Já no caso da luta política se vai tentando derrubar os quadros inferiores e minando as posições superiores.</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="color: #444444;">Os grupos do NÃO VAI HAVER COPA atacaram imediatamente a FIFA e o governo brasileiro, sem considerar que eles estão protegidos por muitas casamatas e fortalezas materiais e culturais. Não esquecer as lições de junho de 2013: como pegaram bem as reivindicações relacionadas com transporte público, saúde, educação escolar, segurança, mobilidade urbana, participação social, reforma política! Tudo isso faz parte das fomes do estômago e da alma da nossa gente.</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="color: #444444;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="color: #444444;">A Copa tem um legado? A FIFA seguramente está muito satisfeita, foi a Copa das Copas.Talvez as arenas e a infraestrutura seja bem utilizadas. É possível que os turistas estrangeiros tenham ficado impressionados com as belezas naturais do Brasil e a alegria e simpatia dos brasileiros. Pode ser que as urnas em outubro vinguem a falta de educação e intolerância na abertura da Copa. A oposição, no seu agouro, pode ter conseguido conquistar votos para seus candidatos.</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="color: #444444;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="color: #444444;">O que, entretanto, parece inquestionável é que as manifestações e protestos das ruas e dos grupos de oposição ao governo colocaram o Brasil em questão. Em todas as conversas, em qualquer ambiente, se ouviam questionamentos do gênero: não é demais tanto gasto, num país que precisa muito de serviços de saúde, escolas, segurança, estradas, saneamento, infra-estrutura urbana, transportes coletivos...? Será que o país não sabe, não quer ou não pode definir melhor suas prioridades? Está certo a FIFA/CBF mandar tanto no Brasil? Não seriam esses questionamentos o grande legado da Copa?</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="color: #444444;">Tantas queixas/desejos que vieram à tona antes e durante a Copa da FIFA, sem muito aprofundamento, não estariam sugerindo pistas para se tentar encaminhar bem a gestação e parto de algo que está pedindo para nascer?</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="color: #444444;">E as eleições deste ano? Não sabemos, por acaso que o nosso modelo vigente de democracia se baseia fundamentalmente na compra de votos, trocados por dinheiro e promessas de empregos e outros favores? Quantos de nós conhecemos os candidatos que as cúpulas dos partidos impõem aos eleitores? Seria difícil supor que o voto comprado, em cada eleição, gera apatia política em quem é levado a sentir que política é algo sem valor, igual ao seu voto? E que pode gerar cinismo nos seus compradores e vendedores ao se brincar com política, quando se sabe, mesmo inconscientemente, que é a política que faz a gestão dos interesses, direitos e privilégios da sociedade? E pode também gerar indignação sem muita consequência em quem não vê alternativa para um modelo de democracia tão viciado?</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="color: #444444;">Conhecendo tantos vícios da Democracia Parlamentar Representativa, não seria mais conveniente se abster em vez de alimentar modelo tão viciado? Vale votar? Alguém merece o nosso voto? Que poder teriam os candidatos bem intencionados nessa engrenagem tão comprometida com a manutenção dos privilégios dos grupos econômicos, políticos e culturais dominantes?</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="color: #444444;">O modelo é viciado sim, mas ainda bem conveniente a um modelo econômico que diz se basear na liberdade abstrata de quem, para não viver as humilhações do desemprego, teve que vender sua força de trabalho na produção de bens e serviços. Diz também se basear na liberdade abstrata do indivíduo pobre que tem que se submeter aos péssimos serviços governamentais e privados mais baratos para conseguir a realização de alguns mínimos direitos básicos.</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="color: #444444;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="color: #444444;">É conveniente sim, mas está em crise provocada pelo surgimento de muitos atores sociais reivindicando a realização e a própria gestão de seus interesses e direitos. Graças à luta generalizada de tantos novos atores sociais, os grupos dominantes foram obrigados a aceitar a ampliação da participação dos grupos subalternizados, com algumas condições: que não se passe dos limites e não se conteste a ordem capitalista. Eles sabem que alguns aperfeiçoamentos são possíveis, necessários e saudáveis para a manutenção da ordem atual.</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="color: #444444;">Para os novos atores sociais subalternizados, nem a ordem capitalista, nem a Democracia Parlamentar Representativa permitem a realização de seus desejos/interesses/direitos. A Democracia Parlamentar que se limita quase só ao voto, não lhes permite participar da gestão das dimensões importantes de sua vida. E o capitalismo, que tem como principal objetivo o lucro obtido pelo trabalho não pago aos trabalhadores, os reduz à simples força de trabalho e vêem, impotentes, toda parte não paga do trabalho da sociedade ser apropriada privativamente pelos grupos capitalistas e seus aliados na sociedade.</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="color: #444444;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="color: #444444;">Uma perspectiva política se impõe: saltar fora da lógica do capitalismo e da simples Democracia Parlamentar, procurando, em todos os momentos, construir um modo de produzir bens e serviços que resgate a cooperação e a solidariedade apropriadas privativamente pelo modo de produção capitalista e as transforme em forças produtivas para quem trabalha e para a sociedade. E que, em todos os momentos, se tente ampliar a participação, (entendida aqui, como exercício de poder), tão bem camuflada e limitada na Democracia Parlamentar Representativa. Em síntese, a vivência e libertação da cooperação, solidariedade e participação nas práticas econômicas (produção e circulação de bens, serviços e dinheiro) e nas prática explicitamente políticas no executivo, legislativo e judiciário, em nível nacional, estadual municipal, contestarão o capitalismo e já anteciparão um outro modo mais saudável de organizar e gerir a sociedade. Sem esquecer que a vivência da cooperação, solidariedade e participação em outros momentos da vida pode abrir o apetite para viver essas bonitas relações nas grandes práticas econômicas e políticas da sociedade.</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="color: #444444;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="color: #444444;">Quem tem o projeto revolucionário de saltar fora da lógica do capitalismo e de ampliar a participação política, que partido tomar nas eleições que se aproximam, se todos os grandes partidos aceitam a ordem capitalista e a atual Democracia Parlamentar, com alguns retoques? Não existe, portanto, um grande partido revolucionário no Brasil. O drama é que a nova ordem não cai do céu e novos céus e novas terras não nascerão de um raio fulminante caído do céu. É algo a ser construído. Uma guerra de movimentos em que um exército derruba o outro o toma todos os palácios não parece mais adequada para um mundo tão complexo. O caminho para uma decisão, então, parece ser o seguinte: qual dos atuais grandes partidos criará menos obstáculos à realização dos direitos dos injustiçados da sociedade? Qual entre eles (seguramente nenhum é revolucionário) dará algum incentivo à autonomia das organizações da sociedade civil?</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Quem assim proceder pode estar facilitando a luta pela passagem do capitalismo e da democracia restrita para algo que traga mais vida e mais alegria.</div>
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</div>
<div style="text-align: justify;">
Ivandro da Costa Sales[1]</div>
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<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
[1] Sítio Mãe Liquinha. Taperoá, PB, julho de 2014. O autor, professor universitário aposentado, eventualmente presta assessoria em Gestão Democrática, Análise de Conjuntura e Metodologia de Educação Popular a organizações governamentais e civis </div>
Irenaldo Araújohttp://www.blogger.com/profile/07086602500925288872noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-5626154085244349829.post-10209380174366020732015-04-20T11:49:00.001-03:002015-04-20T12:10:04.419-03:00Como cinco cidades brasileiras oferecem educação de qualidade em todas as escolas da rede pública<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEinOkYDLj6WJtbnsz4jRoC1cTLDr2YADz0SbILx7oMxMwc88lsjfhPmKfOoJwbcQksfnS9FfQAzLlYFJuYUwlFISYQfEhVAXrgkgK_waWzIZTBQwUFGw5HTONBQ4Oo2LwrlPBnxVbzXwd8/s1600/educa%C3%A7%C3%A3o+de+qualidade.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEinOkYDLj6WJtbnsz4jRoC1cTLDr2YADz0SbILx7oMxMwc88lsjfhPmKfOoJwbcQksfnS9FfQAzLlYFJuYUwlFISYQfEhVAXrgkgK_waWzIZTBQwUFGw5HTONBQ4Oo2LwrlPBnxVbzXwd8/s1600/educa%C3%A7%C3%A3o+de+qualidade.jpg" height="386" width="640" /></a></div>
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<span style="color: #444444;">A mãe de Pedro Velena, de 10 anos, esperou dois anos por uma vaga na escola que ela considera a melhor da cidade. Sertãozinho, no interior de São Paulo, tem 17 escolas do 1o ao 5o ano. A mais famosa delas é a Professor José Negri, de onde saem medalhistas em olimpíadas de matemática, física e astronomia. Desde 2006, foram 87. Para Pedro, que diz adorar aulas de matemática e que quer ser engenheiro civil quando crescer, a escolha de sua mãe pela José Negri foi natural.</span></div>
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<span style="color: #444444;"><br /></span></div>
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<span style="color: #444444;">“Minha mãe é muito exigente. Nove e meio para ela é pouco”, diz Pedro. Se ele tivesse sido matriculado em qualquer uma das outras escolas da cidade, também teria boas chances de tirar notas altas. Mais importante que isso: teria garantido seu direito de aprender.</span></div>
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<span style="color: #444444;"><br /></span></div>
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<span style="color: #444444;">Sertãozinho faz parte de um seleto grupo de cidades brasileiras que conseguem oferecer educação pública de qualidade com equidade entre as escolas. A distância entre a melhor e a pior escola nesses municípios é pequena. Mesmo a pior escola ensina, no mínimo, as habilidades básicas de português e matemática para os primeiros anos do ensino fundamental. Essa característica garante um dos princípios essenciais de uma sociedade civilizada, onde todos recebem oportunidades para aproveitar seus talentos individuais e se desenvolver.</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="color: #444444;"><br /></span></div>
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<span style="color: #444444;">A pedido de ÉPOCA, Ernesto Martins, coordenador de projetos da Fundação Lemann, analisou os resultados da Prova Brasil de 2011, que avalia as habilidades e competências em português e matemática. Ele considerou o desempenho dos alunos do 1º ao 5º ano, séries quase totalmente de responsabilidade municipal. Usou como referência do nível de aprendizado básico os critérios elaborados pelo movimento Todos Pela Educação. Apenas cinco, num total de 929 cidades, têm 100% das escolas com nota média igual ou superior à recomendada. São elas: Sertãozinho e Lençóis Paulista, ambas em São Paulo, Foz do Iguaçu, no Paraná, São Lourenço, em Minas Gerais, e Sobral, no Ceará. O mesmo estudo foi feito para os resultados do 9º ano, o último do ensino fundamental. Nenhum município (nem os cinco acima) conseguiu garantir médias ideais para todas as escolas.</span></div>
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<span style="color: #444444;"><br /></span></div>
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<span style="color: #444444;">O indicador mais importante de qualidade de uma rede pública é os alunos terminarem a escola sabendo o que deveriam. Isso é raro no Brasil. Um estudo da Unesco com a Universidade Federal de Minas Gerais mostrou que, em 2009, 22% dos alunos das escolas públicas do Brasil concluíram o ensino fundamental sem habilidades básicas de leitura. E 39% sem conhecimentos essenciais de matemática.</span></div>
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<span style="color: #444444;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="color: #444444;">É verdade que o país avançou. O Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb), que desde 2005 avalia o ensino público, mostra alguma melhora na média nacional. Ele é calculado levando em conta as médias da Prova Brasil e a taxa de aprovação dos alunos. Por trás dessa aparente melhora, porém, persiste uma grande disparidade regional, mesmo dentro dos municípios. Tão importante quanto conseguir uma boa média nacional é ensinar habilidades de leitura e matemática a todos os alunos, sem se importar com seu perfil socioeconômico. “Não existe qualidade sem equidade”, afirma Priscila Cruz, diretora executiva do Todos Pela Educação.</span></div>
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<span style="color: #444444;"><br /></span></div>
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<span style="color: #444444;">Garantir esse padrão mínimo de qualidade não é fácil. Basta olhar os resultados do Ideb. Alguns exemplos: a média do Ideb (do 5º ano) do Estado mais bem colocado, Minas Gerais, é 5,8 (a escala é de 0 a 10). A do pior, Alagoas, é 3,5. Entre municípios, a disparidade é ainda maior. Claraval, em Minas, tirou 8,3. Monteirópolis, em Alagoas, 2,5. “A equidade é hoje o maior desafio da educação brasileira”, diz Cleuza Repulho, presidente da União dos Dirigentes Municipais de Educação. “Para os municípios, é um esforço gigantesco.”</span></div>
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<span style="color: #444444;"><br /></span></div>
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<span style="color: #444444;">As cinco cidades que conseguiram esse padrão de qualidade para todos oferecem boas lições para o país. Os caminhos são particulares de cada localidade, mas é possível identificar características ou estratégias comuns:</span></div>
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<span style="color: #444444;"><br /></span></div>
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<span style="color: #444444;">1. Manter a política longe da sala de aula</span></div>
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<span style="color: #444444;"><br /></span></div>
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<span style="color: #444444;">Há uma condição comum a esses cinco municípios, um item fundamental para que as reformas escolares se tornem viáveis: continuidade na política de educação. Como, nessa área, os resultados demoram anos para aparecer, é preciso tempo para identificar as falhas e corrigi-las. A mudança no comando municipal é mais rápida e, muitas vezes, interrompe a melhora. É a velha história: muda o prefeito, muda o secretário, muda a ideo¬logia, e o que foi feito pelos anteriores é desfeito para começar tudo do zero. É comum isso acontecer até mesmo entre executivos do mesmo partido. Nesse vaivém dos gabinetes, os mais prejudicados são os alunos.</span></div>
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<span style="color: #444444;"><br /></span></div>
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<span style="color: #444444;">Em Sertãozinho, a secretária Maria Dirma Francisco, no cargo desde 2001, passou por dois prefeitos em três mandatos. O atual, do PPS, ao perceber que o trabalho feito pela equipe de Dirma dava resultado, continuou o projeto do prefeito anterior, do PSDB (ambos são rivais nestas eleições). “Ele confiou na equipe e deu liberdade para a gente trabalhar”, diz ela. Também com 12 anos de atividade, a reforma de Sobral resistiu a três prefeitos e quatro secretários, ainda que do mesmo grupo político, o PSB. Em Lençóis Paulista, a atual prefeita, em seu primeiro mandato, foi secretária municipal entre 2005 e 2009.</span></div>
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<span style="color: #444444;"><br /></span></div>
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<span style="color: #444444;">Quando a política partidária respeita as necessidades da sala de aula, a solução começa com as indicações para cargo de diretor de escola. O diretor é figura-chave para que todo o plano das secretarias funcione. Uma das primeiras medidas tomadas por Margarida de Luca Alves quando assumiu a Secretaria de São Lourenço, em 2009, foi determinar que os diretores passassem a ser escolhidos pelos integrantes da própria escola. “Fiquei assustada com a falta de critérios das escolhas”, afirma ela. Em Sobral, os diretores passaram a ser selecionados por mérito também logo no começo das mudanças, em 2001. Quem já era diretor teve de passar pela mesma seleção: uma prova escrita, avaliações comportamentais e entrevistas. Resultado: a rede trocou 75% do total de seus diretores naquele ano – e passou a cobrar mais deles a responsabilidade pela eficácia do ensino em suas escolas.</span></div>
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<span style="color: #444444;"><br /></span></div>
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<span style="color: #444444;">2. Avaliar sempre e estabelecer metas</span></div>
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<span style="color: #444444;"><br /></span></div>
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<span style="color: #444444;">Os planos de gestão da educação das cinco cidades campeãs de qualidade têm um único objetivo: todos os alunos precisam aprender, não importa sua classe social. Para saber se o plano está dando certo, é preciso acompanhar o desempenho de cada um dos estudantes. As avaliações sistemáticas são adotadas sem receio. As escolas das redes municipais participam das avaliações federais, como o Ideb, das estaduais e ainda têm uma avaliação própria, uma prova aplicada a todos os alunos, de todas as séries dos primeiros anos do ensino fundamental, no mínimo duas vezes por ano.</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="color: #444444;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="color: #444444;">Como as avaliações são abrangentes e frequentes, seus resultados também servem para mapear os alunos mais atrasados e como eles evoluem ao longo do tempo. A partir daí – e essa é uma estratégia adotada por todas as escolas de todas as cinco redes –, a recuperação é feita, aluno por aluno, imediatamente. Ninguém espera chegar o final do ano para recuperar o deficit de aprendizagem de uma criança. “É importante que o município olhe com atenção especial para suas piores notas. É aí que ele precisará trabalhar com mais esforço”, afirma Romualdo Portela, da Faculdade de Educação da Universidade de São Paulo (USP), especialista em políticas públicas de ensino.</span></div>
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<span style="color: #444444;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="color: #444444;">Em São Lourenço, os alunos são avaliados três vezes por ano. Existe uma categoria de professor exclusiva para cuidar dos estudantes com dificuldades. O professor recuperador trabalha o ano inteiro com o professor regular, no mesmo turno ou no contraturno, sob demanda. “Ensino o que o professor principal pede”, diz Miriam de Almeida Mota Silva, professora recuperadora da escola Coronel Manoel Dias Ferraz, na periferia da cidade. Miriam é a responsável pela recuperação de Vanessa Lopes Silva, de 10 anos. Ela deveria estar no 6o ano, mas ainda cursa o 4o. Sua principal dificuldade era entender os textos que lê. Com as aulas de Miriam, a menina começa a ganhar mais fluência. “Com ela, consigo aprender o que não entendi na sala de aula”, diz Vanessa.</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="color: #444444;"><br /></span></div>
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<span style="color: #444444;">Outro resultado das avaliações é o estabelecimento de metas. Cumprir os objetivos, nesses municípios, é uma obsessão. Em Lençóis Paulista, toda a rede trabalha com metas, do pessoal da cozinha aos alunos. Isso foi determinado em 2005, quando a atual prefeita era secretária de Educação e criou o plano de gestão das escolas. Metas individuais são estabelecidas de acordo com as da escola e da rede. O diagnóstico vem da avaliação municipal, uma prova aplicada em todas as séries do ensino fundamental, três vezes por ano.</span></div>
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<span style="color: #444444;"><br /></span></div>
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<span style="color: #444444;">Depois de 23 anos de magistério, a professora Fátima Cardim começou a trabalhar com metas. Sua missão neste ano é ensinar textos de diversos gêneros, como fábulas, cartas ou receitas. Os alunos e pais foram informados em março de que precisavam melhorar nesse quesito. A meta dela é ter 100% de sua classe com a habilidade. Na avaliação de março, foi detectado que 18 dos 20 estudantes não dominam os gêneros de escrita. Na segunda avaliação, feita em julho, apenas um aluno continuava com dificuldade. “O bom disso é que todas as pessoas estão envolvidas num único objetivo. Antes, meu trabalho era solitário.”</span></div>
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<span style="color: #444444;"><br /></span></div>
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<span style="color: #444444;">3. Políticas sob medida para cada escola</span></div>
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<span style="color: #444444;"><br /></span></div>
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<span style="color: #444444;">Com os resultados das avaliações, é possível enxergar que escolas apresentam problemas específicos e criar, a partir daí, políticas sob medida. Essa é uma das principais estratégias para garantir a equidade. Há cinco anos, Foz do Iguaçu tinha altas taxas de abandono e reprovação, infladas por determinado grupo de escolas. Localizadas em bairros próximos da margem do Rio Paraná e da Ponte Internacional da Amizade, entre Foz e Ciudad del Este, no Paraguai, essas escolas perdiam seus alunos para quadrilhas de contrabandistas, que aliciam famílias inteiras para fazer a passagem de mercadorias ilegais entre um país e outro.</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="color: #444444;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="color: #444444;">A partir daí, a secretária Joane Vilela, no cargo desde 2008, criou uma equipe formada por assistentes sociais e psicólogos, que trabalham com as crianças e suas famílias. Ao mesmo tempo, Foz do Iguaçu adotou um programa estadual em que cada escola preenche uma ficha com informações sobre os alunos que sumiram das aulas. Essas fichas os tornam visíveis, e a equipe pode atuar com mais eficácia e acompanhar caso a caso. Com um apoio extra da prefeitura, escolas velhas foram reformadas. Foi também criado um período para receber alunos que precisam realizar atividades fora do horário escolar, o contraturno. A taxa de abandono da rede caiu de 7%, em 2008, para zero, em 2011.</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="color: #444444;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="color: #444444;">O rendimento dos alunos melhorou. Na Escola Municipal Pedro Viriato Parigot de Souza, numa área onde atuam tanto quadrilhas de contrabandistas como traficantes de drogas, o Ideb passou de 4,2, em 2005, para 7,3, no ano passado. A Escola Municipal Elenice Milhorança, no Jardim América, um dos bairros vizinhos à região da Ponte da Amizade, saiu de 4,1 e chegou a 7 no mesmo período. A estratégia de montar um plano para as escolas mais críticas ajudou a puxar para cima a média de todo o município. Em 2005, o Ideb de Foz do Iguaçu foi de 4,2. A escola com a maior nota tirou 5,3. Em 2011, Foz ficou com 7, e a escola com maior nota tirou 8,6 – a melhor do país.</span></div>
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<span style="color: #444444;"><br /></span></div>
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<span style="color: #444444;">4. Valorização do professor</span></div>
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<span style="color: #444444;"><br /></span></div>
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<span style="color: #444444;">Gestão, avaliação, metas, recuperação. Nada disso funciona se, dentro da sala de aula, o professor não está apto e estimulado a ensinar. Ao mesmo tempo que promoviam as mudanças, todos os cinco municípios investiram na remuneração e formação dos mestres. Na remuneração, prevalece a bonificação de acordo com o resultado do desempenho dos alunos. Sobral paga R$ 250 a mais por turma que atinge a meta. Se o professor tem duas turmas, ganha R$ 500. Em São Lourenço, um comitê avalia o professor levando em conta a frequência e a didática em sala de aula. Se ele tira nota igual ou maior que 7, ganha um bônus que pode chegar a 50% do salário. Sertãozinho paga 14o salário para os que têm alta frequência.</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="color: #444444;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="color: #444444;">A formação dos professores é o fator que mais demanda atenção. Sobral criou uma estrutura em que todo professor do 1o ao 5o ano assiste a aulas sobre como usar o material didático daquele mês. Antes de entrar em sala de aula, eles ainda discutem com os orientadores pedagógicos. Com planos de aula afinados, o aproveitamento do tempo em sala melhorou. Antes, o professor chegava atrasado, gastava tempo organizando a turma ou dispensava os alunos mais cedo, por falta de ideias de atividades. As aulas, que duravam, na prática, duas horas, agora rendem quatro horas, segundo o secretário Julio Alexandre.</span></div>
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<span style="color: #444444;"><br /></span></div>
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<span style="color: #444444;">Em Sertãozinho, foi criado um cargo novo: assistente pedagógico, para cuidar do aprimoramento dos docentes. Eles saem da cidade em busca de cursos oferecidos por universidades para aprender técnicas didáticas usadas nas aulas. Quando voltam, transmitem o que aprenderam aos coordenadores pedagógicos de cada escola. E estes ensinam aos professores. “Antes de fazer o aluno gostar da escola, tive de fazer o professor gostar de dar aula”, diz a secretária Maria Dirma.</span></div>
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<span style="color: #444444;"><br /></span></div>
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<span style="color: #444444;">Com professores bem treinados, essas redes conseguem dar certa autonomia à prática em sala de aula. Os mestres precisam trabalhar com o material didático escolhido pela rede, em muitos casos, desenvolvem técnicas próprias de ensino. Em Foz do Iguaçu, as professoras Leda Márcia Dal Gin e Maria Isabel Gomes Vieira tomaram a iniciativa de dividir a mesma classe, de 5o ano. Uma ficou com as aulas de português e ciências. A outra, com matemática, geografia e história. “Várias vezes, conversando, percebíamos que tínhamos notado algum problema com um ou outro aluno. Ele não receberia a atenção necessária se uma não tivesse comentado com a outra”, diz Leda.</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="color: #444444;"><br /></span></div>
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<span style="color: #444444;">O sucesso desses cinco municípios é, em parte, possível porque eles tinham condições especiais para isso. Trata-se de redes pequenas, com no máximo 51 escolas de anos iniciais. O secretário de Educação e os supervisores conseguem acompanhar pessoalmente as escolas, para controlar e cobrar resultados. Também parece mais fácil para municípios pequenos criar um ambiente em que todos se sentem responsáveis pelo aprendizado do aluno, inclusive as famílias. Sobral recebe apoio técnico e financeiro do Unicef. Apesar de ter médias altas no Ideb, essas cidades não são perfeitas. São Lourenço tem uma alta taxa de defasagem escolar, que aparece como distorção entre a idade e a série do aluno. Um terço das escolas de Lençóis Paulista não alcançou a meta ou teve queda no Ideb em 2011. Todas estão com médias muito baixas nos anos finais (6o ao 9o ano) do ensino fundamental.</span></div>
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<span style="color: #444444;"><br /></span></div>
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<span style="color: #444444;">Mesmo assim, de alguma forma e com muito esforço, esses cinco municípios encontraram um caminho. Ele tem mais a ver com a gestão da rede que com pedagogia, um dado relevante em tempos de eleições municipais. A receita milagrosa não existe. Essas cidades estão apenas fazendo, com mais eficiência, algo básico para que alunos como Pedro, de Sertãozinho, de classe média, e Vanessa, que estuda na periferia de São Lourenço e tem mãe analfabeta, tenham chances iguais de aprender. Que sirvam de inspiração a outras.</span></div>
<span style="color: #444444;"><br />
</span><br />
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<span style="color: #444444; font-size: x-small;">CAMILA GUIMARÃES, COM DÉBORA RUBIN, DE SERTÃOZINHO, E FABIULA WURMEISTER, DE FOZ DO IGUAÇU - REVISTA ÉPOCA - 06/10/2012 - RIO DE JANEIRO, RJ</span></div>
Irenaldo Araújohttp://www.blogger.com/profile/07086602500925288872noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-5626154085244349829.post-67522863873994131202015-04-20T11:47:00.002-03:002015-04-20T11:47:32.323-03:00Quarenta anos de “Jesus Cristo Libertador”.<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhi35jj0a_DFgr0nqPNAo-P-o5OfOqb4PmnvE8tk_-4kIMfjmNh4soSCUzGPkhKKZO704brZAiKlN7nP55HXKuTori5Wp1OKvPa_nxIwdwmSFBbC88-iq1NO4BVuNMaEYmnXBJlZ_-GOgE/s1600/jesus+libertador.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhi35jj0a_DFgr0nqPNAo-P-o5OfOqb4PmnvE8tk_-4kIMfjmNh4soSCUzGPkhKKZO704brZAiKlN7nP55HXKuTori5Wp1OKvPa_nxIwdwmSFBbC88-iq1NO4BVuNMaEYmnXBJlZ_-GOgE/s1600/jesus+libertador.jpg" height="504" width="640" /></a></div>
<div style="text-align: justify;">
Entre os dias 7-10 de outubro está acontecendo em São Leopoldo junto ao Instituto Humanitas da Unisinos dos Jesuitas, a celebração dos 40 anos do surgimento da Teologia da Libertação. Lá estão os principais representantes da América Latina, especialmente, seu primeiro formulador, o peruano Gustavo Gutiérrez. Curiosamente no mesmo ano, 1971, sem que um soubesse do outro, tanto Gutiérrez (Peru), quanto Hugo Assman (Bolivia), Juan Luiz Segundo (Uruguai) e eu (Brasil) lançávamos nossos escritos, tidos como fundadores deste tipo de teologia. Não seria a irrupção Espírito que soprava em nosso Continente marcado por tantas opressões?</div>
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<br /></div>
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Eu, para burlar os órgãos de controle e repressão dos militares, publicava todo mês no ano 1971 um artigo numa revista para religiosas Sponsa Christi (Esposa de Cristo) com o título: Jesus Cristo Libertador. Em março de 1972 reuni os artigos e arrisquei sua publicação em forma de livro. Tive que esconder-me por duas semanas, pois a polícia política me procurava. As palavras “libertação” e “libertador”haviam sido banidas e não podiam ser usada publicamente. Custou muito ao advogado da Editora Vozes, que fora pracinha na Itália, para convencer os agentes da vigilância de que se tratava um livro de teologia, com muitos rodapés de literatura alemã e que não ameaçava o Estado de Segurança Nacional.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Qual a singularidade do livro (hoje na 21.edição)? Ele apresentava, fundada numa exegese rigorosa dos evangelhos, uma figura do Jesus como libertador das várias opressões humanas. Com duas delas ele se confrontou diretamente: a religiosa sob a forma do farisaísmo da estrita observância das leis religiosas. A outra, política, a ocupação romana que implicava reconhecer o imperador como “deus” e assistir a penetração da cultura helenística pagã em Israel.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
À opressão religiosa Jesus contrapôs uma “lei” maior, a do amor incondicional a Deus e ao próximo. Este para ele é toda pessoa da qual eu me aproximo, especialmente os pobres e invisíveis, aqueles que socialmente não contam.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
À política, ao invés de submeter-se ao Império dos Césares, ele anunciou o Reino de Deus, um delito de lesa-majestade. Este Reino comportava uma revolução absoluta do cosmos, da sociedade, de cada pessoa e uma redefinição do sentido da vida à luz do Deus, chamado de Abba, quer dizer, paizinho bondoso e cheio de misericórdia fazendo que todos se sentissem seus filhos e filhas e irmãos e irmãs uns dos outros.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Jesus agia com a autoridade e a convicção de alguém enviado do Pai para libertar a criação ferida pelas injustiças. Mostrava um poder que aplacava tempestades, curava doentes, ressuscitava mortos e enchia de esperança todo o povo. Algo realmente revolucionário iria acontecer: a irrupção do Reino que é de Deus mas também dos humanos por seu engajamento.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Nas duas frente criou um conflito que o levou à cruz. Portanto, não morreu na cama cercado de discípulos. Mas executado na cruz em consequência de sua mensagem e de sua prática. Tudo indicava que sua utopia fora frustrada. Mas eis que aconteceu um evento inaudito: a grama não cresceu sobre sua sepultura. Mulheres anunciaram aos apóstolos que Ele havia ressuscitado. A ressurreição não deve ser identificada com a reanimação de seu cadáver, como o de Lázaro. Mas como a irrupção do ser novo, não mais sujeito ao espaço-tempo e à entropia natural da vida. Por isso atravessava paredes, aparecia e desaparecia. Sua utopia do Reino, como transfiguração de todas as coisas, não podendo de realizar globalmente, se concretizou em sua pessoa mediante a ressurreição. É o Reino de Deus concretizado nele.</div>
<div style="text-align: justify;">
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A ressurreição é o dado maior o cristianismo sem o qual ele não se sustenta. Sem esse evento bem-aventurado, Jesus seria como tantos profetas sacrificados pelos sistemas de opressão. A ressurreição significa a grande libertação e também uma insurreição contra este tipo de mundo. Quem ressuscita não é um Cesar ou um Sumo-Sacerdote, mas um crucificado. A ressurreição dá razão aos crucificados da história da justiça e do amor. Ela nos assegura que o algoz não triunfa sobre a vítima. Significa a realização as potencialidades escondidas em cada um de nós: a irrupção do homem novo.</div>
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Como entender essa pessoa? Os discípulos lhe atribuíram todos os títulos, Filho do Homem, Profeta, Messias e outros. Por fim concluíram: humano assim como Jesus só pode ser Deus mesmo. E começaram a chama-lo de Filho de Deus.</div>
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Anunciar um Jesus Cristo libertador no contexto de opressão que existia ainda persiste no Brasil e na América Latina era e é perigoso. Não só para a sociedade dominante mas também para aquele tipo de Igreja que discrimina mulheres e leigos. Por isso seu sonho sempre será retomado por aqueles que se recusam aceitar o mundo assim como existe. Talvez seja este o sentido de um livro escrito há 40 anos.</div>
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Veja o livro Jesus Cristo Libertador, Vozes, Petrópolis 2012.</div>
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Leonardo Boff </div>
Irenaldo Araújohttp://www.blogger.com/profile/07086602500925288872noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-5626154085244349829.post-14587768000062259352015-04-20T11:45:00.001-03:002015-04-20T11:45:11.918-03:00Torço, mas não vibro<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEj_hXqW6mEgoCQpoolCVefODB8BDmIcTjJMO6AmKJXW1ulNQzYMkAqMe5Rc6cMoaJeVQc5LVva1q1T1Z1yZvugU2zO6m02mz_PvuczotlNN2YACQJezE9I97UcYtodSfOMrC0pU7tcbfJI/s1600/tor%C3%A7o+mais+n%C3%A3o+vibro.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEj_hXqW6mEgoCQpoolCVefODB8BDmIcTjJMO6AmKJXW1ulNQzYMkAqMe5Rc6cMoaJeVQc5LVva1q1T1Z1yZvugU2zO6m02mz_PvuczotlNN2YACQJezE9I97UcYtodSfOMrC0pU7tcbfJI/s1600/tor%C3%A7o+mais+n%C3%A3o+vibro.jpg" height="400" width="350" /></a></div>
Em conversa sobre o contexto das eleições, sempre tenho procurado compreender a realidade vivida em cada município. Afinal, discorrer sobre política é algo que me fascina e o que me entristece é quando vejo alguém dizer que detesta política.<br />
O meu fascínio pela política vem de longe. Quando criança, em Taperoá, ficava atento as palavras do meu avô, Alonso Pereira Pinto, quando se mostrava inconformado com um governo construído sob a égide da ditadura militar e, ao mesmo tempo, mostrava-se um defensor dos ideais do MDB (Movimento Democrático Brasileiro). Lembro-me como ele acompanhava atento o processo eleitoral nos municípios de nossa região e até de nosso país, afinal não se votava para governador, nem para presidente. Lembro-me, como se fosse hoje, quando me pedia para anotar o resultado das pesquisas eleitorais realizadas, ao vivo, pelas ruas de Patos, através da Rádio Espinharas, para saber a tendência neste município para a escolha dos seus representantes.<br />
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O meu fascínio pela política é uma riqueza herdada da Teologia da Libertação. Aqui em Patos, podemos citar como referência: o Pe. Raimundo Noberto, com os seus discursos inflamados contra as injustiças sociais, o seu trabalho na então capela do Morro, na Paróquia de Catingueira, com a Pastoral Universitária e na Rádio Espinharas de Patos. Outro expoente aqui em Patos: Dom Gerardo Andrade Ponte, um profeta que se mostrava bastante sensível às pessoas empobrecidas, acolhia a todos como um pai e se mostrava furioso quando se deparava com situações de injustiça. Mais tarde, tive acesso a outros expoentes da Teologia da Libertação: Dom José Maria Pires, Dom Hélder Câmara, Leonardo Boff, dentre outros.<br />
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O meu fascínio pela política recebeu influência de alguns educadores. Homens e mulheres que tinham como meta o fortalecimento da consciência crítica dos alunos, não estavam preocupados apenas com o repasse de conteúdos. Aqui em Patos lembro o entusiasmo do Professor Osman e da Professora Terezinha, no Colégio Diocesano e no Colégio Cristo Rei. Neste mesmo período, fui tendo contatos com a obra de Paulo Freire, especialmente pela forma apaixonada como falava a seu respeito o Pe. Ivan Teófilo, salesiano que lecionava no ITER (Instituto Teológico do Recife).<br />
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O meu fascínio pela política vem a partir da luta pelo direito ao voto e pela implantação de políticas públicas que garantam o bem-estar da população. Neste sentido, compreendo a riqueza da política para além do momento das eleições. A política é como o ar que respiramos, apesar de não percebermos está presente em tudo aquilo que fazemos.<br />
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O meu fascínio pela política é que me leva a sempre estar procurando conhecer o contexto das eleições nos municípios da nossa região. Pelas questões acima expostas tenho algumas dificuldades em relação ao nosso contexto político: 1) votar ou manifestar apoio a partidos e grupos que têm suas origens na ditadura militar; 2) compreender candidatos como se fosse protegido por uma redoma – cada candidato é a ponta de um iceberg, é necessário conhecer toda a sua base de sustentação; 3) a forma como as pessoas se envolvem emocionalmente com a política, gerando uma espécie de bipartidarismo (herança maldita da ditadura militar), classificando o outro como o inimigo, ficando difícil de se manter qualquer diálogo, mas, pelo contrário, surgindo cenas de desrespeitos, com agressões de todo tipo – as pessoas alteradas emocionalmente têm dificuldade de utilizar aquilo que é comum a espécie humana (raciocínio), utilizam com mais frequência aquilo que há em comum com os demais animais, a partir do instinto de agressão e defesa; 4) em ver como as pessoas não utilizam o momento político para ouvir os candidatos, naquilo que se propõem ao bem-estar da população e ao zelo pela coisa pública – este deveria ser um momento de grandes debates, tendo como foco modelos de gestão que garantam a participação dos diversos setores da sociedade.<br />
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Perante a situação que vivemos, acredito que tem se tornado difícil militar na defesa de algumas candidaturas, tendo em vista que há uma gradual perca do idealismo político em algumas figuras que estão ao nosso redor. Neste sentido, olhando para os cenários que se constroem em alguns municípios, no estado e até no país, chego a torcer pela vitória de alguns candidatos, mas não vibro com as possíveis eleições.Irenaldo Araújohttp://www.blogger.com/profile/07086602500925288872noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-5626154085244349829.post-13271032306668960702015-04-20T11:42:00.003-03:002015-04-20T11:42:42.937-03:00Seca ou estiagem?<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhkNlRjyKTJ16vUJoUoBlUxJkYRhbCOLuQBbPHtbMpAo8RJJdFmfc3Aon3VgMikB-QU2nKDulHEwpLXMBVpm-p0v_eKc0NYuQQRJzFL6O4Xh8I2GCw6FcKhof5jIt4m9BT7KG9aurOb184/s1600/seca+ou+estiagem.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhkNlRjyKTJ16vUJoUoBlUxJkYRhbCOLuQBbPHtbMpAo8RJJdFmfc3Aon3VgMikB-QU2nKDulHEwpLXMBVpm-p0v_eKc0NYuQQRJzFL6O4Xh8I2GCw6FcKhof5jIt4m9BT7KG9aurOb184/s1600/seca+ou+estiagem.jpg" height="480" width="640" /></a></div>
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Muito se fala sobre o fenômeno da seca e da estiagem. Estas expressões são sinônimas ou são significações de fenômenos diferenciados?</div>
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Para quem compreende seca e estiagem como palavras sinônimas geralmente vê a seca como uma fatalidade, como um grande problema relacionado à falta d’água e de alimentos e que para suprir tais dificuldades é preciso que se invista em políticas que tragam água e comida para o povo sertanejo. É interessante que as soluções propostas vêm sempre de fora e o povo é visto como vítimas de um fenômeno natural. O interessante é que tais campanhas geram comoção social e as ações do Estado são sempre de forma paternalista. Tais campanhas geraram tantos benefícios para os grupos detentores do poder, que foi virando um ciclo vicioso, que passou a ser chamado de indústria da seca. Como parte deste grupo está àquelas pessoas que carrega a certeza de que a superação de tais problemas se encontra na transposição do São Francisco, vista como a última obra da referida indústria.</div>
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E quem compreende seca e estiagem como fenômenos diferentes, caminha com a certeza de que a seca é um fenômeno criado por grupos sociais hegemônicos que se utilizam de um fenômeno natural no semiárido, denominado estiagem, para tirar proveito social e econômico.</div>
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Neste sentido, ao se compreender a estiagem como um fenômeno natural no semiárido, vai se investir mais em ações estruturantes para se promover uma cultura que se pauta na lógica do armazenamento. Assim, as pessoas vão estar mais atentas ao armazenamento de água para o consumo humano, animal e para a produção; armazenamento de alimentos para a população humana e animal; à capacidade de suporte das pequenas propriedades, plantando culturas e criando animais respeitando as particularidades ambientais, dando atenção especial ao clima, solo, índice pluviométrico e vegetação.</div>
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Ao se compreender a estiagem como um fenômeno natural vamos ter mais condições de se construir uma cultura que se pauta a partir de outro olhar sobre o semiárido, especialmente a partir de processos de construção de uma educação contextualizada. Neste sentido, quanto mais se investir em ações estruturantes mais a população vai ficar independente de grupos que detêm o poder político e econômico em nossa região.</div>
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Acredito que novo cenário se constrói no semiárido brasileiro. Pois apesar de estarmos vivendo uma das maiores estiagens dos últimos trinta anos, o comportamento da população tem sido diferenciada. Será que isso não é um sinal dos tempos!?</div>
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Quanto mais em ações estruturantes, menos o fenômeno da seca vai se fazer presente em nosso semiárido.</div>
Irenaldo Araújohttp://www.blogger.com/profile/07086602500925288872noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-5626154085244349829.post-75885048732352155942012-09-14T14:30:00.001-03:002012-09-14T14:30:17.268-03:00Política em cor ou em cores?<p align="justify"><font size="3">Conta-se que todas as pessoas viviam bem. Seguiam tradições em crenças herdadas dos antepassados. Quantos suspiros não eram dados por cada cena que se passava naquele cotidiano. Em seu local, as pessoas estavam bem acomodadas. Não havia necessidade nem de pensar, pois já tinha quem fizesse isso. A sobrevivência diária já estava pensada. E todas as pessoas viviam felizes naquela realidade cinzenta.</font> <p align="justify"><font size="3">Conta-se também que um dia, alguém sente a necessidade de se levantar, olhar ao seu redor e ir um pouco mais além. Não é à toa que se diz que a curiosidade é a mãe das grandes descobertas! O fato dá uma vontade imensa de aquela pessoa se levantar, começar a caminhar... mesmo com dificuldades! De repente, observa-se uma luz que vem de fora e que é dela que são vistas as cenas daquela realidade. A luz é forte! Mas, é preciso que se caminhe até a luz que parece está no final daquela caverna. Aquele ser se empolga! Quando mais caminha, mas seus olhos ficam ofuscados. Chega a se esquecer dos seus! Aquela luz, como que num encanto, numa magia vai dando coragem àquele ser, que antes de tudo é racional. Finalmente, após aquela longa escalada, chega ao local de onde vinha aquela luz. Para sua surpresa não era uma luz, mas uma saída! Ele começa a compreender que, na verdade, aquela abertura era um convite a quebra das rotinas, a um encontro com novas realidades. Finalmente, ele consegue sair! Quando olhava para traz, não via mais projeções, imagens do passado! O encanto da descoberta é fascinante!</font> <p align="justify"><font size="3">Ao chegar ao exterior daquele mundo em que vivia, começa a perceber o quanto era bela a realidade. Uma realidade colorida: belas árvores, montanhas, animais, pessoas... Pela primeira vez, sente a necessidade de olhar para si e lhe vem um desejo imenso de se conhecer, de conhecer novos mundos! E quanto mais ele descobre a nova realidade, mais empolgado fica com a realidade.</font> <p align="justify"><font size="3">Mas, o ser humano ao fazer novas descobertas não se contenta apenas com o seu bem estar. Há um desejo imenso de ir ao encontro dos seus para que também venham conhecer a sua realidade, os novos mundos que se despontam. E ele volta! Não para ficar naquele mundo cinzento, mas para trazer os seus para este mundo em cores. Aos poucos vai descobrindo o caminho de volta. O desejo de encontrar os seus é tão forte que logo chega ao local de onde ele saiu. Os seus olhos sentem dificuldade de caminhar naquela escuridão. É iluminado pela luz que entra por aquela fresta. Aos poucos vai enxergando aquelas projeções da realidade que está lá fora. Ele sente vontade de chorar! Como o seu povo vive enganado, pensando que a realidade são aquelas projeções que vem de fora. É preciso que as pessoas façam aquele trajeto em busca da verdadeira realidade! E finalmente chega ao encontro dos seus!</font> <p align="justify"><font size="3">A sua parentela, com certeza, começa a lhe enxergar com outros olhos! Por onde andou esse menino!? Vivia tão bem com a gente! De repente saiu! Desapareceu! Todos ficam até assustados com aquele rosto meio estranho! Estava até mais escuro! O que teria acontecido com ele? E para aumentar a surpresa ele começa a falar!</font> <p align="justify"><font size="3">A sua fala era um tanto diferente! E ao invés de apenas falar da beleza daquelas imagens projetadas, começa a fazer um convite! Conclama as pessoas para se levantarem, olharem para traz e descobrir novas realidades! E para surpresa de todas as pessoas, que atônitas ouviam as palavras proferidas por aquela pessoa que não mais falavam como eles, ele dizia que aquelas imagens não eram a realidade e que para que eles descobrissem a verdadeira realidade era preciso que se levantassem, mesmo que para isso representasse um pouco de esforço, seguisse aquela luz que estava no fim da caverna, pois além daquele horizonte é que se encontrava a verdadeira realidade. E todos pasmam! Mas, aquele jovem empolgado diz mais ainda que aquilo que se ver são apenas projeções daquilo que está lá fora! E que do local onde eles se encontram, circundado pela escuridão jamais vão compreender a beleza em cores que existe lá fora.</font> <p align="justify"><font size="3">As pessoas presentes querem se revoltar com aquelas palavras! Que sacrilégio! Que blasfêmia! Estavam convencidos que ele havia endoidado! Estava negando as suas verdadeiras tradições! E para que ele não continuasse a dizer tanta asneira e não contaminasse a mente das demais pessoas e para não atrapalhar as imagens que estavam sendo projetadas, resolveram encaminhar logo aquele homem para uma espécie de calabouço. Mas logo, os anciãos, os chefes, os donos do poder começaram a ver que este homem era uma ameaça, pois se ele permanecesse ali poderia acabar com tudo o que se havia construído, pois as pessoas estavam acostumadas com aquela realidade e aquilo era a melhor realidade. Todas as pessoas já não recebiam o suficiente para sobreviver, já não se alegravam com as imagens que viam do lugar em que se encontravam?! Então! O que fazer? E após um longo silêncio, todos sentenciam! É importante que este homem morra para que possamos garantir o nosso bem estar. E assim foi sentenciado! E assim foi executado! E assim foi cumprido!</font> <p align="justify"><font size="3">Aquele homem, Amigo da Sabedoria, que conheceu outros mundos, simplesmente queria contribuir com a libertação dos seus, que viviam enganados pelos seus líderes. Aquele Amigo da Sabedoria não queria que o seu povo vivesse apenas vendo imagens projetadas da realidade, de acordo com o interesse de seus líderes, que apenas mostravam uma determinada cor como expressão da realidade... Aquele homem foi morto, acusado de querer subverter a ordem estabelecida.</font> <p align="justify"><font size="3">A ordem estabelecida eliminou aquele homem que contestou uma política em cor, que acreditou na possibilidade de que as pessoas vissem a realidade a partir de suas cores verdadeiras, que ousou em sair daquela caverna na busca de novos mundos, que não quis ficar preso a um mundo pré-determinado... Mas não conseguiu eliminar os seus sonhos, que encorajou alguém a conta-lo, a passar a gerações futuras, que inspirou Platão a escrever o Mito da Caverna, que me inspira a acreditar na possibilidade de mudanças quando tudo parece perdido.</font> <p align="justify"><font size="3">Acredito na possibilidade de as pessoas evoluírem de uma política em cor, onde a paixão e o elemento de base; para uma política em cores, que tenha por base critérios racionais, de análise crítica, e que esteja pautada na construção de pilares que apontem possibilidades de se construir espaços de gestão que estejam pautados no zelo pela coisa pública (<i>res publica</i>).</font></p> Irenaldo Araújohttp://www.blogger.com/profile/07086602500925288872noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-5626154085244349829.post-38614621828906476052012-09-10T10:45:00.001-03:002012-09-10T10:45:19.358-03:00Morreu o profeta do semiárido<p align="right">09/09/2012 <p align="right">Leonardo Boff <p align="justify"><em><font size="3">Conheci pessoalmnte DOM JOSE RODRIGES, bispo de Juazeiro do Norte, na Bahia. No exato dia em que recebi a carta do então Cardeal Joseph Ratznger convocando-me à Inquisição Romana, comecei o retiro que preguei para os padres e leigos daquela diocese. Achei mais importante animar aquela comunidade perseguida do que atender aos oficiais de Roma. Só no fim, depois de uma semana, pude dizer àquele povo, minha situação de convocado. Minha situação não era nada em comparação com as perseguições que o bispo e muitos agentes de pastoral sofriam vigiados e ameaçados pela repressão militar. Hoje, vivemos tempos invernais na Igreja. Há um vazio de verdadeiros pastores e de autênticos profetas como Dom José. É nosso dever lembrar os pastores fiéis e os profetas destemidos que souberam estar sempre do lado dos fracos e perseguidos. Sem temor e sem subterfúgios. Era pequeno de porte mas um gigante do espírito. Vi sua biblioteca, cheia de livros novos que lia para se atualizar na teologia, na pastoral e no trabalho com o povo. Publico aqui o artigo de um de seus discípulos e colaboradores ROBERTO MALVEZZI, o Gogó. Em nome nosso e de tantos, ele lhe presta uma justa homenagem. Viver como Dom José é digno. Morrer como morreu por amor aos outros é heróico, obra de um santo e lição de um profeta. Que ele lá da glória,acompanhe a Igreja em crise para que o povo sofredor tenha ao seu lado pastores e profetas da têmpera de Dom José Rodrigues. LBoff</font></em> <p align="justify"><font size="3">**********************************</font> <p align="justify"><font size="3">D. José José Rodrigues foi o homem certo, no lugar certo, na hora certa. Quando chegou a Juazeiro para ser bispo, a barragem de Sobradinho estava em construção. Então, ele assumiu a sorte dos relocados, depois dos pobres em geral e nunca mudou. Chegou em 1975.</font> <p align="justify"><font size="3">Aqui era área de segurança nacional, regime militar, ACM governador, prefeitos nomeados pelo presidente da república. Não havia partidos, nem organizações populares. Então, com poucos padres e religiosas, chamou leigos para apoiar os 72 mi relocados. Assim, a diocese foi durante muito tempo o abrigo para cristãos, comunistas, ateus, qualquer um que movido pela justiça assumisse a causa do povo.</font> <p align="justify"><font size="3">Depois enfrentou o período das longas secas. Criou pastorais populares. Fez o opção radical pelos pobres e comunidades eclesiais de base. Usava as rádios e seu poder de comunicação para defender os oprimidos pelo peso dos coronéis e do regime militar.</font> <p align="justify"><font size="3">Quando um gerente do Banco do Brasil foi seqüestrado, ele aceitou ser trocado. Ficou sob a mira dos revólveres por dias, começando sobre a ponte que liga Juazeiro a Petrolina. Depois visitou seus seqüestradores na cadeia e ainda fez o casamento de um deles.</font> <p align="justify"><font size="3">Abrigou na diocese toda convivência com o semiárido, muito lembrado nesses tempos de estiagem. Por isso, quando a ASA fez um de seus encontros nacionais, quis fazê-lo em Juazeiro para homenagear esse profeta do semiárido.</font> <p align="justify"><font size="3">Costumava contar que recebeu muitos presentes quando chegou e foi reverenciado pela elite. No terceiro ano ganhou três camisas. No quinto ano ganhou de presente uma única camisa dada por uma prostituta que freqüentava a escola Senhor do Bonfim, trabalho feito junto às prostitutas da cidade.</font> <p align="justify"><font size="3">Quando foi embora saiu com toda a mudança que trouxe: uma mala que cabia uma muda de roupas – que ele lavava todas as noites para vestir no dia seguinte – e seu livro de oração.</font> <p align="justify"><font size="3">Na celebração de despedida afirmou na catedral: “nunca trai os pobres, nem em época de eleição”.</font> <p align="justify"><font size="3">D. José faleceu nessa madrugada, dia 9 de Setembro, em Goiânia, comunidade redentorista de Trindade, para onde foi depois de 28 anos em Juazeiro.</font> <p align="justify"><font size="3">Seu corpo será transladado para Juazeiro na segunda-feira, onde será enterrado. Aqui, sua memória jamais será esquecida por aqueles que com ele conviveram, sobretudo, pelos em situação de pobreza, nos corações dos quais ele reside</font>. <p align="justify"> <p align="right">Disponível em: <<a title="http://leonardoboff.wordpress.com/2012/09/09/morreu-o-profeta-do-semiarido/" href="http://leonardoboff.wordpress.com/2012/09/09/morreu-o-profeta-do-semiarido/">http://leonardoboff.wordpress.com/2012/09/09/morreu-o-profeta-do-semiarido/</a>> Acesso: 10 set 2012, 10:45</p> Irenaldo Araújohttp://www.blogger.com/profile/07086602500925288872noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-5626154085244349829.post-12524627543414448312012-09-07T21:03:00.001-03:002012-09-07T21:03:12.187-03:00Política como arte<p align="justify"><font size="3">Quando criança tinha medo da palavra arte, considerando que ao ter a ousadia de fazê-la poderia implicar em castigos. Naquele contexto, tal palavra estava associada à traquinagem: alguém que fazia algum tipo de arte poderia e deveria ser punido.</font> <p align="justify"><font size="3">Mais tarde passo a entender outros sentidos da palavra arte e, neste caso, até um sentido nobre, pois quem a produzia eram os doutos. Quantos suspiros não eram dados a partir da contemplação de uma obra de arte: uma bela música, uma pintura, um bom livro... (estas obras eram tão belas que, mesmo quando você não entendia, em tal realidade, era desafiado a também suspirar pelo belo!).</font> <p align="justify"><font size="3">Em nosso contexto, o tempo vai ajudando a compreender melhor a força das palavras e a perceber o quanto as pessoas se apropriam delas, chegando até a utilizá-las como artimanha ideológica. Por exemplo: quando vejo um alguém dizer que a didática é arte de ensinar, suspiro de alegria. Poxa! Ensinar é uma arte! E que arte nobre! Mas alguns teóricos mais críticos que nos provocam a entender o caráter ideológico das palavras, dize-nos que depende de quem ensina a arte pode ter o significado presente no primeiro ou no segundo parágrafo deste texto.</font> <p align="justify"><font size="3">O mesmo ocorre com a palavra política. Aprendemos em Filosofia a necessidade de compreender a política como arte. Pois conforme a etimologia grega, política terá vindo “de <em>Politik</em>a, o plural neutro de <em>politikós</em>, as coisas políticas; de <em>Politeia</em>, o regime político, o direito dos cidadãos; ou de <em>politikè</em>, como mistura de <em>polis+ technè</em>, a arte política”*. Com os romanos “<em>Politika</em> transforma-se em <em>res publica</em>, com Cícero a identificar tal conceito com o de <em>politeia</em>’*. Assim, a política vai sendo entendida como uma arte que está a serviço da pólis, do bem comum.</font> <p align="justify"><font size="3">Conforme Rodrigues*, o quanto é belo contemplar a arte da política, pois a sua existência está para o bem comum, para o bem da polis, para garantir o bem estar dos cidadãos e das cidadãs. Entretanto, há quem queira transformar a política em outro tipo de arte, aquela que está associada ao entendimento do primeiro parágrafo do presente texto: arte como coisa feia. E mesmo havendo punição para quem faz este tipo de arte, especialmente a partir da Lei da Ficha Limpa, há quem insista transformar a política não numa arte a serviço do bem comum, mas numa arte a serviço de grupos ou interesses privados.</font> <p align="justify"><font size="3">Na atualidade, um dos desafios para que a política seja uma arte a serviço do bem comum pode ser observado na forma como são financiadas as campanhas, passando a ter um peso diferenciado àquelas pessoas que são escolhidas para representarem determinados grupos particulares, pois passam a ter uma campanha com grandes investimentos de mídia, com profissionais contratados para passar uma boa imagem dos seus candidatos, com dinheiro para presentear aquelas pessoas que ainda parecem indecisas. E a política vai se transformando numa forma de investimento, um investimento espúrio, pois de quem são investidos milhões para se eleger, não se pode esperar muito quanto assumir a gestão pública.</font> <p align="justify"><font size="3">Os Tribunais Eleitorais têm trabalhado muito para garantir que as eleições sejam transparentes, punindo os chamados “fichas sujas”, mas cada vez mais há um aperfeiçoamento nas formas de driblar a justiça. Há quem trabalhe, de forma astuta, para convencer “galinhas” a votar em “raposas”: nem que para isso estes quadrúpedes não apareçam. Neste sentido, estes carnívoros selvagens vêm renovando suas garras, fortalecendo suas alianças, conseguindo formas diversas de investimentos: o importante é a manutenção do poder, não importando os meios. Neste sentido, o importante é convencer as “galinhas” que as forças utilizadas são lícitas, que os bens declarados são legais e que eleitos vão trabalhar na defesa daquilo que é público (<i>res publica</i>). </font> <p align="justify"><font size="3">Grande desafio é a não capacidade de se utilizar a razão crítica para o entendimento das diferentes formas de entender a política. As pessoas se envolvem emocionalmente, passam a compreender que é uma disputa em cores, os ânimos são acirrados, aparecem as apostas, as campanhas vão ficando cada vez mais caras... e quem perde com isso é a democracia.</font> <p align="justify"><font size="3">É preciso que o idealismo reacenda, no sentido de compreender a política não como arte (astúcia), mas como arte (zelo pela <i>res publica</i>).</font> <p> <p align="right">*<font size="2">Rodrigues, J. Política: etimologia. Disponível em: < http://farolpolitico.blogspot.com.br/2007/04/poltica-etimologia.html> Acesso: 07 set 2012, 19:39</font></p> Irenaldo Araújohttp://www.blogger.com/profile/07086602500925288872noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-5626154085244349829.post-83048301933418837742012-09-07T20:25:00.001-03:002012-09-07T20:25:39.312-03:00Política como arte<p align="justify"><font size="3">Quando criança tinha medo da palavra arte, considerando que ao ter a ousadia de fazê-la poderia implicar em castigos. Naquele contexto, tal palavra estava associada à traquinagem: alguém que fazia algum tipo de arte poderia e deveria ser punido.</font> <p align="justify"><font size="3">Mais tarde passo a entender outros sentidos da palavra arte e, neste caso, até um sentido nobre, pois que a produzia eram os doutos. Quantos suspiros não eram dados a partir da contemplação de uma obra de arte: uma bela música, uma pintura, um bom livro... (estas obras eram tão belas que, mesmo quando você não entendia, em tal realidade, era desafiado a também suspirar pelo belo!).</font> <p align="justify"><font size="3">Em nosso contexto, o tempo vai ajudando a compreender melhor a força das palavras e a perceber o quanto as pessoas se apropriam delas, chegando até a utilizá-las como artimanha ideológica. Por exemplo: quando vejo um alguém dizer que a didática é arte de ensinar, suspiro de alegria. Poxa! Ensinar é uma arte! E que arte nobre! Mas alguns teóricos mais críticos que nos provocam a entender o caráter ideológico das palavras, dize-nos que depende de quem ensina a arte pode ter o significado presente no primeiro ou no segundo parágrafo deste texto.</font> <p align="justify"><font size="3">O mesmo ocorre com a palavra política. Aprendemos em Filosofia a necessidade de compreender a política como arte. Pois conforme a etimologia grega, política terá vindo “de <em>Politik</em>a, o plural neutro de <em>politikós</em>, as coisas políticas; de <em>Politeia</em>, o regime político, o direito dos cidadãos; ou de <em>politikè</em>, como mistura de <em>polis+ technè</em>, a arte política”*. Com os romanos “<em>Politika</em> transforma-se em <em>res publica</em>, com Cícero a identificar tal conceito com o de <em>politeia</em>’*. Assim, a política vai sendo entendida como uma arte que está a serviço da pólis, do bem comum.</font> <p align="justify"><font size="3">Conforme Rodrigues*, o quanto é belo contemplar a arte da política, pois a sua existência está para o bem comum, para o bem da polis, para garantir o bem estar dos cidadãos e das cidadãs. Entretanto, há quem queira transformar a política em outro tipo de arte, aquela que está associada ao entendimento do primeiro parágrafo do presente texto: arte como coisa feia. E mesmo havendo punição para quem faz este tipo de arte, especialmente a partir da Lei da Ficha Limpa, há quem insista transformar a política não numa arte a serviço do bem comum, mas numa arte a serviço de grupos ou interesses privados.</font> <p align="justify"><font size="3">Na atualidade, um dos desafios para que a política seja uma arte a serviço do bem comum pode ser observado na forma como são financiadas as campanhas, passando a ter um peso diferenciado àquelas pessoas que são escolhidas para representarem determinados grupos particulares, pois passam a ter uma campanha com grandes investimentos de mídia, com profissionais contratados para passar uma boa imagem dos seus candidatos, com dinheiro para presentear aquelas pessoas que ainda parecem indecisas. E a política vai se transformando numa forma de investimento, um investimento espúrio, pois de quem são investidos milhões para se eleger, não se pode esperar muito quanto assumir a gestão pública.</font> <p align="justify"><font size="3">Os Tribunais Eleitorais têm trabalhado muito para garantir que as eleições sejam transparentes, punindo os chamados “fichas sujas”, mas cada vez mais há um aperfeiçoamento nas formas de driblar a justiça. Há quem trabalhe, de forma astuta, para convencer “galinhas” a votar em “raposas”: nem que para isso estes quadrúpedes não apareçam. Neste sentido, estes carnívoros selvagens vêm renovando suas garras, fortalecendo suas alianças, conseguindo formas diversas de investimentos: o importante é a manutenção do poder, não importando os meios. Neste sentido, o importante é convencer as “galinhas” que as forças utilizadas são lícitas, que os bens declarados são legais e que eleitos vão trabalhar na defesa daquilo que é público (<i>res publica</i>). </font> <p align="justify"><font size="3">Grande desafio é a não capacidade de se utilizar a razão crítica para o entendimento das diferentes formas de entender a política. As pessoas se envolvem emocionalmente, passam a compreender que é uma disputa em cores, os ânimos são acirrados, aparecem as apostas, as campanhas vão ficando cada vez mais caras... e quem perde com isso é a democracia.</font> <p align="justify"><font size="3">É preciso que o idealismo reacenda, no sentido de compreender a política não como arte (astúcia), mas como arte (zelo pela <i>res publica</i>).</font> <p> <p align="right">*<font size="2">Rodrigues, J. Política: etimologia. Disponível em: < http://farolpolitico.blogspot.com.br/2007/04/poltica-etimologia.html> Acesso: 07 set 2012, 19:39</font></p> Irenaldo Araújohttp://www.blogger.com/profile/07086602500925288872noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-5626154085244349829.post-79066842152453653392012-09-03T16:45:00.001-03:002012-09-07T07:44:06.512-03:00Um triste desfecho<div align="justify">
Não se fala em outra coisa: o desfecho triste de uma ave criada como animal de estimação por duas mulheres no sertão da Paraíba e que fora sequestrada por um jovem, que buscava arrecadar objetos para saciar o seu vício. <br />
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Somente entende a atitude desesperada destas mulheres quem cria algum ser com estima. A relação é tão profunda que a pessoa se projeta e passa a ver neste ente uma extensão do seu ser. A ação de estima leva o indivíduo a atribuir valores que deveriam ser dado a seres que lhes são semelhantes, uma espécie de antropomorfismo. A pessoa passa a cultuar tal ser, oferecendo-lhe o que de melhor estiver ao seu alcance. Tem crescido muito as lojas especializadas para satisfazer aos mimos de tais animais. Quanto mais o custo for elevado dos filhotes, mas a pessoa se projeta como alguém de alta condição econômica. Quantas pessoas não se relacionam com tais animais e até conversam com eles, tratando-lhes melhor do que as pessoas que lhes servem. Tudo parece tão natural que as pessoas acham até bonito quando no possível diálogo, a pessoa se dirige chamando-lhes de filhos ou filhas. Em algumas cidades, em épocas de missão ou nas festas dedicadas a São Francisco, abre-se espaço para bênçãos a estas criaturas divinas. Muitas vezes ocorrendo cenas cômicas nos ambientes sagrados, quando se reúnem para receber as bênçãos caninos e felinos. Certo líder religioso, certa vez, para aplacar tamanha ira, encontrou uma solução simples: as pessoas que traziam cães e gatos ficassem em lados opostos. Neste ano o culto não houve problemas. <br />
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Esta relação do ser humano com animais de estimação é tão presente que vários são os autores que procuram apresentar desfechos hilariantes, sendo um dos mais famosos em nosso meio, o contato por Ariano Suassuna, em “O Auto da Compadecida”, onde a dona de um cão, após sua morte, somente se conformaria se o padre fosse fazer a encomendação do defunto e tão celebração deveria ser feita em latim (uma espécie de língua sagrada naquele momento), mas o que parecia ridículo, tudo passa a ser amenizado quando se fala numa possível herança deixada pelo ente querido. Há alguns anos atrás, numa cidade do Vale do Piancó, um senhor queria o mesmo desfecho para o seu animal de estimação, pedindo que o sacerdote fosse dar uma bênção, em língua vernácula mesmo, mas o seu pedido não houve êxito. <br />
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A benéfica relação do ser humano com animais de outras espécies tem se mostrado tão salutar, que alguns especialistas aconselham para pessoas que estão um tanto desoladas, como uma espécie de terapia. Quem tem posses adquirem filhotes de gatos, cães e até de animais maiores. Quem tem condições faz até equoterapia. <br />
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A atitude desesperada de quem tem um ente subtraído é procurar ajuda: vizinhos, amigos, órgãos de segurança, imprensa. Quem perdeu sente a perda de um pedaço do seu ser. Mas, tal busca se torna hilária quando as pessoas passam a julgar pelo valor material. Para que tanto alvoroço por tão pouco. Mas ela não é um entre tantos, é o ente querido, que tanto ajudou... <br />
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Quanto à imprensa noticia, mesmo com a seriedade dos fatos arrolados, há uma dificuldade de se entender que não é um ser entre tantos, o ser subtraído é um ente especial. <br />
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As pessoas começam a acessar tal notícia. A repercussão assusta até mesmo o jornalista. Logo vira manchete no estado e até no país. As pessoas pensam que se trata de uma comédia. Não é um fato real. Roubaram uma galinha. As pessoas filhas da cidade em questão, até se esquecem que o nome da cidade faz referência a um grupo aves, que viviam em paz numa lagoa, sentem vergonha. Como pode... não tem outra notícia a ser dada. <br />
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Aquela galinha ocupa as páginas policiais. E as pessoas que antes se deleitavam apenas com as notícias sobre violência no trânsito, desrespeito aos direitos humanos, tráfico de drogas, corrupção... agora se veem obrigadas a ouvir a história de uma galinha. Não! Que vergonha. <br />
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De imediato, artistas locais, perfurando este solo árido, num insight, resolvem comunicar o fato, através de uma bela melodia, numa letra sem apelação, ganham logo o gosto da multidão. Mas uma vez há protestos. Pois as pessoas estão acostumadas somente com ritmos que projetam grandes barulhos, enquanto, de forma sincrônica, pessoas descem as cadeiras até embaixo, com passos que mais lembram uma espécie de transe erótico. Todos dizem: animal quer sair da toca. <br />
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E os protestos continuam. Isto é uma falta de respeito. Põe em xeque os valores morais, religiosos... A ave de estimação mais uma vez ocupa até espaços sagrados (do campo santo aos templos). Os ânimos se acirram. Saem notas de repúdio. Há quem procure até transformar num evento político. Diante dos fatos, somente nos resta pedi a uma Ave Sagrada, símbolo de suprema divindade, que está presente desde os tempos mais remoto, que ajude a acalmar os ânimos das multidões. Que ajude a compreender o que é essencial e o que é acessória nesta história. <br />
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Mas... e o rapaz que subtraiu os bens daquela família. Ninguém fala. Já está pagando pelo que fez! Chamam até de alma sebosa. Não seria mais interessante que as pessoas físicas e jurídicas tivessem mais preocupadas com a causa que levou este jovem a ter tal atitude? Que ocupassem mais tempo nas tribunas convocando as multidões para se mobilizarem para a derrota do mal que assola famílias inteiras, que veem subtraídos aqueles que deveriam ser os bens mais preciosos? <br />
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Uma galinha que não tinha preço, trocada por duas pedras de crack, que está corroendo vidas que não têm preço: cada pessoa é templo de Espírito Santo... Quando uma sociedade se escandaliza com o desfecho dado a morte de uma galinha e trata com frieza a morte de seres humanos... marchamos para um triste desfecho. <br />
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Irenaldo Araújohttp://www.blogger.com/profile/07086602500925288872noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-5626154085244349829.post-39458119678707547772012-08-21T19:33:00.001-03:002012-08-21T19:33:03.236-03:00Após acordo, Câmara vota medidas para agricultores atingidos pela seca<p align="right"><b>ERICH DECAT</b><br>DE BRASÍLIA</p> <p align="justify"><font size="3">Após acordo entre líderes dos partidos da base aliada e da oposição, os deputados devem votar no plenário nesta terça-feira (21) a Medida Provisória que prevê a renegociação das dívidas dos agricultores prejudicados pela estiagem. </font> <p align="justify"><a href="http://www1.folha.uol.com.br/poder/1140230-planalto-convoca-base-para-pressionar-por-projetos-no-congresso.shtml"><font size="3">Planalto convoca base para pressionar por projetos no Congresso</font></a> <p align="justify"><font size="3">Apesar do entendimento de que haverá a votação da proposta, ainda não há acordo sobre o limite do crédito que deverá ser dado ao agricultor. A equipe econômica do governo defende que o teto para a renegociar seja de até R$ 200 mil das dívidas acumuladas até dezembro de 2006. </font> <p align="justify"><font size="3">O impacto dessa medida para os cofres do governo, segundo cálculos de lideres da base aliada, é de R$ 2,6 bilhões. A criação de linhas de crédito especiais será feita com recursos dos Fundos Constitucionais de Financiamento do Norte, Nordeste e Centro-Oeste. </font> <p align="justify"><font size="3">Os recursos servirão para atender aos setores produtivos rural, industrial, comercial e de serviço dos municípios com situação de emergência ou estado de calamidade. </font> <p align="justify"><font size="3">Apesar de o governo defender um teto de R$ 200 mil para a renegociação das dívidas, o impasse está no fato de que integrantes da bancada ruralistas querem retirar o limite. A decisão sobre qual será o entendimento final deve ser feita no voto durante a apreciação da MP no plenário. </font> <p align="justify"><font size="3">A proposta também amplia o valor do auxílio emergencial financeiro para atender a população atingida pelas calamidades de R$ 300 para R$ 400 por família. Esse auxilio tem como objetivo socorrer as famílias com renda mensal média de até dois salários mínimos atingidas por desastres. </font> <p align="justify"><font size="3">Além dessa proposta, também ficou acordado para amanhã (22), a votação de outra medida provisória que abre crédito de R$ 688,5 milhões para atender às populações de municípios atingidos pela seca e de outras regiões que foram atingidas por enchentes.</font> <p align="right"> <p align="right">Disponível em: <<a title="http://www1.folha.uol.com.br/poder/1140919-apos-acordo-camara-vota-medidas-para-agricultores-atingidos-pela-seca.shtml" href="http://www1.folha.uol.com.br/poder/1140919-apos-acordo-camara-vota-medidas-para-agricultores-atingidos-pela-seca.shtml">http://www1.folha.uol.com.br/poder/1140919-apos-acordo-camara-vota-medidas-para-agricultores-atingidos-pela-seca.shtml</a>> Acesso: 21 ago 2012, 19:32</p> Irenaldo Araújohttp://www.blogger.com/profile/07086602500925288872noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-5626154085244349829.post-26935368097271557862012-08-21T16:06:00.001-03:002012-08-21T16:06:07.346-03:00O tribunal da consciência e a corrupção<p align="right"><font size="3">Leonardo Boff</font> <p align="justify"><font size="3">O corrupto ama a escuridão e abomina a luz. Ele sabe o quanto é condenável o que pratica. É nesse ponto que se anuncia a consciência. Fizeram-se inumeráveis interpretações do fato da consciência. Tentaram derivá-la da sociedade, dos super-egos das tradições e da religiões, do ressentimento face aos fortes e outros. Os manuais de ética referem infindáveis discussões sobre a origem, a natureza e o estatuto da consciência. Entretanto, por mais que tentemos derivá-la de outras realidades, ela se mantém como instância irredutível e última.</font> <p align="justify"><font size="3">Ela possui a natureza de uma voz interior que não consegue ser calada. Exemplifiquemos: em 310 o imperador romano Maximiano mandou dizimar uma unidade soldados cristãos porque, depois de uma batalha, se negaram a degolar inocentes. Antes de serem executados, deixaram uma carta ao imperador:”Somos teus soldados e temos as armas em nossas mãos. Entretanto, preferimos morrer a matar inocentes a ter que conviver com a voz da consciência nos acusando”(<em>Passio Agaunensium).</em> A 3 de fevereiro de 1944 escreve outro soldado alemão e cristão a seus pais: ”fui condenado à morte porque me neguei a fuzilar prisioneiros russos indefesos. Prefiro morrer a levar pela vida afora a consciência carregada com o sangue de inocentes. Foi a senhora, minha mãe, que me ensinou a seguir sempre primeiro a voz da consciência e somente depois as ordens dos homens(<em>Letzte Briefe zum Tode Veruteilter).</em></font> <p align="justify"><font size="3">Que poder possui essa voz interior a ponto de vencer o medo natural de morrer e aceitar ser morto? Ela admoesta, julga, premia e castiga. Com razão Sócrates e Sêneca testemunhavam que a consciência”é Deus dentro de ti, junto de ti e contigo”. Kant, o grande mestre do pensamento ético, dizia que “a consciência é um tribunal interno diante do qual pensamentos e atos são julgados inapelavelmente”. Foi esse filósofo que introduziu claramente a distinção entre <em>preço </em>e <em>dignidade. </em>Aquilo que tem preço pode ser substituído por algo equivalente. Entretanto há uma instância em nós que está acima de todo preço e que, por isso, não admite nada que a substitua: essa é a dignidade humana”, fundada na consciência de que “o ser humano é um fim em si mesmo e que não pode jamais servir de meio para qualquer outra coisa”.</font> <p align="justify"><font size="3">O mau e o corrupto se escondem sem que ninguém os procure e fogem sem que ninguém os persiga. Donde lhe vem esse medo e pavor? Quem é esse que vê os dinheiros escondidos e para os quais não existem cofres secretos nem senhas para abri-los? Para ela não há segredos em quatro paredes palacianas ou em obscuro quarto de hotel. O corrupto sabe e sente que a consciência é maior que ele mesmo. Não possui poder sobre ela. Não a criou. Nem pode destrui-la. Ele pode desobedecer ao seus imperativos. Negá-la. Violentá-la. Mas o que ele não pode é silenciá-la.</font> <p align="justify"><font size="3">Por que aventamos esse clamor íntimo? Porque estamos interessados em conhecer os tormentos que a má consciência inflinge ao coração e à mente daquele corrupto que desviou dinheiro público, que se apropriou das poupanças dos trabalhadores e dos idosos e que, desmascarado, teve que inventar mentiras e mais mentiras para esconder o seu malfeito. Mas não há nada escondido que um dia não seja revelado.</font> <p align="justify"><font size="3">Mesmo que saia absolvido em um tribunal, porque contratou advogados hábeis em fazer narrativas tão lógicas que encobriram seu crime e convenceram os magistrados, ele não consegue escapar do tribunal interior que o condena. Uma voz o persegue para onde for, acusando-o de indigno diante de si mesmo, incapaz de olhar com olhos límpidos para sua esposa e filhos e conversar com coração aberto com seus amigos. Uma sombra o acompanha e lhe rouba a irradiação que nasce da bondade originária de uma consciência serena e feliz. A vida o amaldiçoa porque traíu a verdade, violou sua própria dignidade e se fez desprezível diante de sua própria consciência.</font> <p align="justify"><font size="3"></font> <p align="right"><font size="2">Disponível em: <</font><a title="http://leonardoboff.wordpress.com/" href="http://leonardoboff.wordpress.com/"><font size="2">http://leonardoboff.wordpress.com/</font></a><font size="2">> Acesso: 21 ago 2012, 16:05</font></p> Irenaldo Araújohttp://www.blogger.com/profile/07086602500925288872noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-5626154085244349829.post-13074795552458053852012-08-21T08:34:00.001-03:002012-08-21T08:34:53.462-03:00Encontro consolidará união dos movimentos do campo, diz Dom Tomas<p align="right"><font size="3">20 de agosto de 2012</font> <p align="right"><em><font size="3">Da Página do MST</font></em> <p align="justify"><font size="3">O bispo emérito de Goiás e conselheiro da Comissão Pastoral da Terra (CPT), Dom Tomás Balduino, elogiou a iniciativa dos movimentos do campo de organizar o Encontro Unitário dos Trabalhadores, Trabalhadoras e Povos do Campo, das Águas e das Florestas, que começa nesta segunda-feira.</font> <p align="justify"><font size="3">"Esta mobilização é muito oportuna e urgente visto que o adversário instalado no empresariado rural e na bancada ruralista do Congresso quer, a todo custo, enfraquecer vocês pela desunião e pelo isolamento, disse Dom Tomás, em carta enviada à organização do encontro.</font> <p align="justify"><font size="3">Mais de 5 mil delegados das organizações estarão presentes nesse encontro que acontece 51 anos após o 1º Congresso Camponês do Brasil, realizado em 1961 na cidade de Belo Horizonte.</font> <p align="justify"><font size="3">O Encontro Unitário permitirá um debate mais amplo e qualificado sobre a atual conjuntura do problema agrário brasileiro, cujo maior objetivo está na construção de uma unidade programática em torno de pontos comuns, assim como avançar na construção de uma agenda de lutas e mobilização unitária para 2013.</font> <p align="justify"><font size="3">Abaixo, leia a carta enviada pelo bispo.</font> <p align="justify"><em><font size="3">Queridos companheiros e companheiras presentes em Brasília no Encontro Unitário dos Trabalhadores, Trabalhadoras e Povos do Campo, das Águas e das Florestas, fazendo memória dos 50 anos do 1º Congresso Nacional Camponês e do assassinato do grande companheiro João Pedro Teixeira.<br></font></p></em> <p align="justify"><em><font size="3">Agradeço o honroso convite que o Valdir me fez em nome das entidades e organizações camponesas para participar deste evento de união e de luta.<br>Lamento não poder estar presente, em razão de compromisso na mesma data com o Conselho Indigenista Missionário (CIMI GO/TO).</font></em></p> <p align="justify"><em><font size="3">Declaro-lhes, entretanto, que estou profundamente unido a vocês.<br>Vocês, com efeito, no mesmo espírito das Ligas Camponesas a que João Pedro Teixeira estava ligado, estão buscando consolidar a união dos diversos movimentos do campo.</font></em></p> <p align="justify"><em><font size="3">Esta mobilização é muito oportuna e urgente visto que o adversário instalado no empresariado rural e na bancada ruralista do Congresso quer, a todo custo, enfraquecer vocês pela desunião e pelo isolamento.</font></em></p> <p align="justify"><em><font size="3">Vamos, pois, em frente com garra e com as bênçãos de Deus.</font></em></p> <p align="justify"><em><font size="3">Saúdo-os com muita amizade e admiração.</font></em></p> <p align="justify"><em><font size="3">Araguaína, 17 de agosto de 2012,</font></em></p> <p align="justify"><em><font size="3">Dom Tomás Balduino, bispo emérito de Goiás e Conselheiro da CPT Nacional</font> </em></p> <p align="right"><em></em> </p> <p align="right"><em>Disponível em: <<a title="http://www.mst.org.br/content/encontro-vai-consolidar-uni%C3%A3o-dos-diversos-movimentos-do-campo-afirma-dom-tomas" href="http://www.mst.org.br/content/encontro-vai-consolidar-uni%C3%A3o-dos-diversos-movimentos-do-campo-afirma-dom-tomas">http://www.mst.org.br/content/encontro-vai-consolidar-uni%C3%A3o-dos-diversos-movimentos-do-campo-afirma-dom-tomas</a>> Acesso: 21 ago 2012, 08:33</em></p> Irenaldo Araújohttp://www.blogger.com/profile/07086602500925288872noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-5626154085244349829.post-48959423483370857622012-08-21T08:12:00.001-03:002012-08-21T08:12:04.964-03:00Um encontro histórico de camponeses<p align="justify"><font size="3"><i>Esperamos que o resultado seja a construção de uma unidade programática, em torno de pontos comuns, para enfrentar os mesmos inimigos<br></i><br>Entre os dias 20 e 22 de agosto, no Parque da Cidade em Brasília (DF), se realiza um encontro nacional de todos os movimentos sociais e entidades que atuam no meio rural brasileiro. Lá estarão os representantes do movimento sindical como a Confederação Nacional dos Trabalhadores na Agricultura (Contag), a Federação Nacional dos Trabalhadores e Trabalhadoras na Agricultura Familiar (Fetraf), dos movimentos sociais do campo vinculados a Via Campesina Brasil como o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), o Movimento de Mulheres Camponesas (MMC), o Movimento dos Pequenos Agricultores (MPA), o Movimento dos Atingidos por Barragens (MAB). </font></p> <p align="justify"><font size="3">Estarão também os movimentos de pescadores e pescadoras artesanais do Brasil e representantes das centenas de agrupamentos quilombolas esparramados pelo país. </font> <p align="justify"><font size="3">A Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (APIB) e o Conselho Indigenista Missionário (Cimi) também marcarão presença com a questão indígena. As pastorais sociais que atuam no meio rural, como Comissão Pastoral da Terra (CPT), Cáritas, Pastoral da Juventude etc, e também dezenas de outros movimentos regionalizados ou de nível estadual se farão presentes.</font></p> <p align="justify"><font size="3">Assim, será portanto, um encontro unitário, plural e expressivo de todas as formas de organização e representação que existem hoje no meio rural brasileiro, abrangendo desde os assalariados rurais, camponeses, pequenos agricultores familiares, posseiros, ribeirinhos, quilombolas, pescadores e povos indígenas. Todos unidos, independente da corrente política ou ideológica a que se identificam.</font></p> <p align="justify"><font size="3">Esse encontro será histórico, porque que na trajetória dos movimentos sociais do campo essa unidade somente havia ocorrido uma vez, em novembro de 1961, quando se realizou em Belo Horizonte (MG) o I Congresso Camponês do Brasil. Naquela ocasião também se unificaram todos os movimentos, de todas as correntes políticas-ideológicas, desde o PCB, PSB, esquerda cristã, PTB, brizolistas e esquerda radical. </font></p> <p align="justify"><font size="3">A unidade foi necessária, apesar da diversidade, para cerrar fi leiras contra a direita e dar força ao novo governo popular de João Goulart para assumir a bandeira da reforma agrária e elaborar uma lei inédita de reforma agrária para o país. Daí que o lema resultante dos debates e que iria orientar a ação prática dos movimentos foi “Reforma agrária: na lei ou na marra!”<br>Passaram-se 50 anos para que, mais uma vez, todas as formas de organização da população que vive no campo viessem a se reencontrar. E agora com uma representação ainda maior, acrescida dos quilombolas, pescadores e povos indígenas, que na época nem se reconheciam como formas organizativas de nosso povo.</font></p> <p align="justify"><font size="3">E por que foi possível realizar esse encontro? Por várias razões. Primeiro, porque o capital está em ofensiva no campo. Sob a hegemonia do capital financeiro e das empresas transnacionais está impondo um novo padrão de produção, exploração e espoliação da natureza: o agronegócio. E o agronegócio construiu uma unidade, uma aliança do capital, aglutinando o capital financeiro, as corporações transnacionais, a mídia burguesa e os grandes proprietários de terra. E essa aliança representa hoje os inimigos comuns para toda a população que vive no meio rural, e que depende da agricultura, da natureza, da pesca, para sobreviver.</font></p> <p align="justify"><font size="3">Em segundo lugar, porque estamos assistindo à subserviência do Estado brasileiro, em suas várias articulações a esse projeto. O poder Judiciário, as leis e o Congresso Nacional operam apenas em seu favor.</font></p> <p align="justify"><font size="3">Em terceiro lugar, estamos assistindo a um governo federal dividido. Um governo de composição de forças, que mescla diversos interesses, mas que o agronegócio possui maior influência, seja nos ministérios seja nos programas de governo.</font></p> <p align="justify"><font size="3">Em quarto lugar, percebeu-se que essa forma de exploração e de produção do agronegócio está colocando em risco o meio ambiente, a natureza e a saúde da população, com o uso intensivo de agrotóxicos, que matam. Matam a biodiversidade vegetal e animal e matam indiretamente os seres humanos, com a proliferação de enfermidades, em especial o câncer, como têm denunciado os cientistas da área de saúde.</font></p> <p align="justify"><font size="3">Em quinto lugar, porque o país precisa de um projeto de desenvolvimento nacional, que atenda aos interesses do povo brasileiro e não apenas do lucro das empresas. Nesse projeto, a democratização da propriedade da terra e a forma como devemos organizar a produção dos alimentos é fundamental.</font></p> <p align="justify"><font size="3">Em sexto lugar, é necessário que se reoriente as políticas públicas, de forma prioritária para preservar o meio ambiente, produzir alimentos saudáveis com garantia de mercado, e garantia de renda e emprego para toda a população que mora no interior.</font></p> <p align="justify"><font size="3">Em sétimo lugar, é necessária colocar na pauta prioritária dos movimentos sociais do campo a democratização do acesso à educação, em todos os níveis. Desde um programa massivo de alfabetização, que tire da escuridão os 14 milhões de adultos brasileiros que ainda não sabem ler e escrever, até garantir o acesso ao ensino médio e superior aos mais de 3 milhões de jovens que vivem no meio rural.</font></p> <p align="justify"><font size="3">Tudo isso será debatido durante os três dias do Encontro Nacional de Trabalhadores Rurais.<br>Esperamos que o resultado seja a construção de uma unidade programática, em torno de pontos comuns, para enfrentar os mesmos inimigos, como também se possa avançar para construir uma agenda de lutas e mobilização unitária para 2013.</font></p> <p align="justify"><font size="3">Salve o II encontro nacional de todos os trabalhadores e populações que vivem no interior do Brasil!</font></p> <p align="right">Notícia circulada por e-mail:</p> <p align="right"><font size="2">Adelaide Pereira da Silva - Integrante da CPT Sertão/PBTelefones:(83) 9903-2859/8852-6193/3255-6196</font></p> Irenaldo Araújohttp://www.blogger.com/profile/07086602500925288872noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-5626154085244349829.post-65577364100120945772012-08-20T21:17:00.001-03:002012-08-20T21:17:55.261-03:00Educação integral para beneficiários do Bolsa Família cresce 240%<p align="right">Seg, 20 de Agosto de 2012 18:21 <p align="right">Escrito por PT Senado <p align="justify"><font size="3">A presidenta Dilma Rousseff afirmou nesta segunda-feira (20/08) que a prioridade do governo é levar educação integral para as famílias e para as regiões mais pobres do País. Durante o programa de rádio <i>Café com a Presidenta</i>, ela destacou o papel do Programa de Ensino Integral Mais Educação, que, por meio de escolas em tempo integral, vem ampliando o atendimento aos beneficiários do Bolsa Família — de 5.300, em 2011, para quase 18 mil, em 2012.</font> <p align="justify"><font size="3">“A nossa prioridade é levar a educação integral para as famílias e as regiões mais pobres. Para uma família sair da miséria, vários caminhos são possíveis, mas dois são os mais importantes e necessários. Para os adultos, um emprego ou uma atividade que gere renda. Para as crianças e os jovens, a educação, a educação e mais educação.”, disse a presidenta.</font> <p align="justify"><font size="3">De acordo com Dilma, nas escolas em tempo integral os alunos têm acompanhamento pedagógico obrigatório no turno complementar das aulas. Os professores ajudam nas tarefas, tiram dúvidas e reforçam o aprendizado, principalmente de português e matemática.</font> <p align="justify"><font size="3">“Muitas vezes, esse acompanhamento é feito também nas atividades fora da sala de aula. Por exemplo, quando o aluno joga xadrez, ele exercita o raciocínio lógico, o que ajuda no aprendizado da matemática. A música e o esporte ajudam na concentração e na disciplina. Todas essas atividades aumentam o interesse do aluno pela escola e melhoram a autoestima da criança”, explicou.</font> <p align="justify"><font size="3">A presidenta também comentou o resultado do Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb). “Nos anos iniciais do Ensino Fundamental, o Brasil teve nota 5 no Ideb Nacional, superando a meta de 2011 e também a de 2013. Nós tivemos bons resultados também, Luciano, nos anos finais do Ensino Fundamental (…) Várias ações, como o Programa Ensino Fundamental Mais Educação, estão ajudando a melhorar a qualidade da educação no nosso país. A escola pública pode sim ser uma boa escola e esta vitória também é dos nossos professores”, finalizou Dilma.</font> <p align="justify"><i><font size="3">Blog do Planalto</font></i> <p align="right"><em><font size="3">Disponível em: <</font></em><a title="http://ptnosenado.org.br/textos/69-noticias/23599-educacao-integral-para-beneficiarios-do-bolsa-familia-mais-que-triplica-em-2012" href="http://ptnosenado.org.br/textos/69-noticias/23599-educacao-integral-para-beneficiarios-do-bolsa-familia-mais-que-triplica-em-2012">http://ptnosenado.org.br/textos/69-noticias/23599-educacao-integral-para-beneficiarios-do-bolsa-familia-mais-que-triplica-em-2012</a>> Acesso: 20 ago 2012, 21:17</p> Irenaldo Araújohttp://www.blogger.com/profile/07086602500925288872noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-5626154085244349829.post-79953834746699535362012-08-20T20:38:00.001-03:002012-08-20T20:38:31.181-03:00Murar o medo<p align="right"><font size="3">Mia Couto</font> <p align="justify"><font size="3">O medo foi um dos meus primeiros mestres. Antes de ganhar confiança em celestiais criaturas, aprendi a temer monstros, fantasmas e demônios. Os anjos, quando chegaram, já eram para me guardarem, servindo como agentes da segurança privada das almas. Nem sempre os que me protegiam sabiam da diferença entre sentimento e realidade. Isso acontecia, por exemplo, quando me ensinavam a recear os desconhecidos.</font> <p align="justify"><font size="3">Na realidade, a maior parte da violência contra as crianças sempre foi praticada não por estranhos, mas por parentes e conhecidos. Os fantasmas que serviam na minha infância reproduziam esse velho engano de que estamos mais seguros em ambientes que reconhecemos. Os meus anjos da guarda tinham a ingenuidade de acreditar que eu estaria mais protegido apenas por não me aventurar para além da fronteira da minha língua, da minha cultura, do meu território.</font> <p align="justify"><font size="3">O medo foi, afinal, o mestre que mais me fez desaprender. Quando deixei a minha casa natal, uma invisível mão roubava-me a coragem de viver e a audácia de ser eu mesmo. No horizonte vislumbravam-se mais muros do que estradas. Nessa altura, algo me sugeria o seguinte: que há neste mundo mais medo de coisas más do que coisas más propriamente ditas.</font> <p align="justify"><font size="3">No Moçambique colonial em que nasci e cresci, a narrativa do medo tinha um invejável <em>casting</em> internacional: os chineses que comiam crianças, os chamados terroristas que lutavam pela independência, e um ateu barbudo com um nome alemão. Esses fantasmas tiveram o fim de todos os fantasmas: morreram quando morreu o medo. Os chineses abriram restaurantes junto à nossa porta, os ditos terroristas são governantes respeitáveis e Karl Marx, o ateu barbudo, é um simpático avô que não deixou descendência.</font> <p align="justify"><font size="3">O preço dessa construção de terror foi, no entanto, trágico para o continente africano. Em nome da luta contra o comunismo cometeram-se as mais indizíveis barbaridades. Em nome da segurança mundial foram colocados e conservados no Poder alguns dos ditadores mais sanguinários de toda a história. A mais grave herança dessa longa intervenção externa é a facilidade com que as elites africanas continuam a culpar os outros pelos seus próprios fracassos.</font> <p align="justify"><font size="3">A Guerra-Fria esfriou, mas o maniqueísmo que a sustinha não desarmou, inventando rapidamente outras geografias do medo, a Oriente e a Ocidente. E porque se trata de novas entidades demoníacas não bastam os seculares meios de governação. Precisamos de intervenção com legitimidade divina. O que era ideologia passou a ser crença, o que era política tornou-se religião, o que era religião passou a ser estratégia de poder.</font> <p align="justify"><font size="3">Para fabricar armas é preciso fabricar inimigos. Para produzir inimigos é imperioso sustentar fantasmas. A manutenção desse alvoroço requer um dispendioso aparato e um batalhão de especialistas que, em segredo, tomam decisões em nosso nome. Eis o que nos dizem: para superarmos as ameaças domésticas precisamos de mais polícia, mais prisões, mais segurança privada e menos privacidade. Para enfrentar as ameaças globais precisamos de mais exércitos, mais serviços secretos e a suspensão temporária da nossa cidadania. Todos sabemos que o caminho verdadeiro tem que ser outro. Todos sabemos que esse outro caminho começaria pelo desejo de conhecermos melhor esses que, de um e do outro lado, aprendemos a chamar de “eles”.</font> <p align="justify"><font size="3">Aos adversários políticos e militares, juntam-se agora o clima, a demografia e as epidemias. O sentimento que se criou é o seguinte: a realidade é perigosa, a natureza é traiçoeira e a humanidade é imprevisível. Vivemos – como cidadãos e como espécie – em permanente situação de emergência. Como em qualquer estado de sítio, as liberdades individuais devem ser contidas, a privacidade pode ser invadida e a racionalidade deve ser suspensa.</font> <p align="justify"><font size="3">Todas estas restrições servem para que não sejam feitas perguntas como, por exemplo, estas: por que motivo a crise financeira não atingiu a indústria de armamento? Por que motivo se gastou, apenas o ano passado, um trilhão e meio de dólares com armamento militar? Por que razão os que hoje tentam proteger os civis na Líbia são exatamente os que mais armas venderam ao regime do coronel Kadaffi? Por que motivos se realizam mais seminários sobre segurança do que sobre justiça?</font> <p align="justify"><font size="3">Se queremos resolver e não apenas discutir a segurança mundial teremos que enfrentar ameaças bem reais e urgentes. Há uma arma de destruição massiva que está sendo usada todos os dias, em todo o mundo, sem que sejam precisos pretextos de guerra. Essa arma chama-se fome. Em pleno século 21, um em cada seis seres humanos passa fome. O custo para superar a fome mundial seria uma fração muito pequena do que se gasta em armamento. A fome será, sem dúvida, a maior causa de insegurança do nosso tempo.</font> <p align="justify"><font size="3">Mencionarei ainda outra silenciada violência: em todo o mundo, uma em cada três mulheres foi ou será vítima de violência física ou sexual durante o seu tempo de vida. A verdade é que pesa uma condenação antecipada pelo simples fato de serem mulheres. A nossa indignação, porém, é bem menor que o medo. Sem darmos conta, fomos convertidos em soldados de um exército sem nome, e como militares sem farda deixamos de questionar. Deixamos de fazer perguntas e de discutir razões. As questões de ética são esquecidas porque está provada a barbaridade dos outros. E porque estamos em guerra, não temos que fazer prova de coerência nem de ética nem de legalidade.</font> <p align="justify"><font size="3">É sintomático que a única construção humana que pode ser vista do espaço seja uma muralha. A chamada Grande Muralha foi erguida para proteger a China das guerras e das invasões. A Muralha não evitou conflitos nem parou os invasores. Possivelmente, morreram mais chineses construindo a Muralha do que vítimas das invasões. Diz-se que alguns dos trabalhadores que morreram foram emparedados na sua própria construção. Esses corpos convertidos em muro e pedra são uma metáfora de quanto o medo nos pode aprisionar.</font> <p align="justify"><font size="3">Há muros que separam nações, há muros que dividem pobres e ricos. Mas não há hoje no mundo muro que separe os que têm medo dos que não têm medo. Sob as mesmas nuvens cinzentas vivemos todos nós, do sul e do norte, do ocidente e do oriente. Citarei Eduardo Galeano acerca disso que é o medo global: “<em>Os que trabalham têm medo de perder o trabalho. Os que não trabalham têm medo de nunca encontrar trabalho. Quando não têm medo da fome, têm medo da comida. Os civis têm medo dos militares, os militares têm medo da falta de armas, as armas têm medo da falta de guerras</em>.” E, se calhar, acrescento agora eu, há quem tenha medo que o medo acabe.</font> <p align="right"> <p align="right">Disponível em: <<a title="http://praler.org/2012/02/o-medo/" href="http://praler.org/2012/02/o-medo/">http://praler.org/2012/02/o-medo/</a>> Acesso: 20 ago 2012, 20:38</p> Irenaldo Araújohttp://www.blogger.com/profile/07086602500925288872noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-5626154085244349829.post-35156303967434114372012-07-02T16:24:00.001-03:002012-07-02T16:24:48.322-03:00Insuficiências conceptuais da Rio+20<p align="right"><font size="3">Leonardo Boff*</font> <p align="right"><font size="3">01/07/2012</font> <p align="justify"><font size="3">Não corresponde à realidade dizer que a Rio+20 foi um sucesso. Pois não se chegou a nenhuma medida vinculante nem se criaram fundos para a erradicação da pobreza nem mecanismos para o controle do aquecimento global. Não se tomaram decisões para a efetivação do propósito da Conferência que era criar as condições para o “futuro que queremos”. É da lógica dos governos não admitirem fracassos. Mas nem por isso deixam de sê-lo. Dada a degradação geral de todos os serviços ecossistêmicos, não progredir significa regredir.</font> <p align="justify"><font size="3">No fundo, afirma-se: se a crise se encontra no crescimento, então a solução se dá com mais crescimento ainda. Isso concretamente significa: mais uso dos bens e serviços da natureza o que acelera sua exaustão e mais pressão sobre os ecossistemas, já nos seus limites. Dados dos próprios organismos da ONU dão conta que de desde a Rio 92 houve uma perda de 12% da biodiversidade, 3 milhões de metros quadrados de florestas foram desmatados, 40% mais gases de efeito estufa foram emitidos e cerca da metade das reservas de pesca mundiais foram exauridas.</font> <p align="justify"><font size="3">O que espanta é que o documento final e o borrador não mostram nenhum sentido de autocrítica. Não se perguntam por quê chegamos à atual situação, nem percebem, claramente, o caráter sistêmico da crise. Aqui reside a fraqueza teórica e a insuficiência conceptual deste e, em geral, de outros documentos oficiais da ONU. Elenquemos alguns pontos críticos.</font> <p align="justify"><font size="3">Os que decidem continuam dentro do velho <em>software</em> cultural e social que coloca o ser humano numa posição adâmica: sobre a natureza como o seu dominador e explorador, razão fundamental da atual crise ecológica. Não entendem o ser humano como parte da natureza e responsável pelo destino comum. Não incorporaram a visão da nova cosmologia que vê a Terra como viva e o ser humano como a porção consciente e inteligente da própria Terra com a missão de cuidar dela e garantir-lhe sustentabilidade. Ela é vista tamsomente como um reservatório de recursos, sem inteligência e propósito.</font> <p align="justify"><font size="3">Acolheram a “grande transformação”(Polanyi) ao anular a ética, marginalizar a política e instaurar como único eixo estruturador de toda a sociedade a economia; de uma economia de mercado passou-se a uma sociedade de mercado, descolando a economia real da economia financeira especulativa, esta comandando aquela. Confundiram desenvolvimento com crescimento, aquele como o conjunto de valores e condições que permitem o desabrochar da existência humana e este como mera produção de bens a serem comercializados no mercado e consumidos. Entendem a sustentabilidade como a maneira de garantir a continuidade e a reprodução do mesmo, das instituições, das empresas e de outras instâncias, sem mudar sua lógica interna e sem questionar os impactos que causam sobre todos os serviços ecossistêmicos. São reféns de uma concepção antropocêntrica, quer dizer: todos os demais seres somente ganham sentido na medida em que se ordenam ao ser humano, desconhecendo a comunidade de vida, também gerada, como nós, pela Mãe Terra. Entretém uma relação utilitarista com todos os seres, negando-lhes valor intrínseco e por isso como sujeitos de respeito e de direitos, especialmente o planeta Terra.</font> <p align="justify"><font size="3">Por considerar tudo pela ótica do econômico que se rege pela competição e não pela cooperação, aboliram a ética e a dimensão espiritual na reflexão sobre o estilo de vida, de produção e de consumo das sociedades. Sem ética e espiritualidade, nos fizemos bárbaros, insensíveis à paixão de milhões de milhões de famintos e miseráveis. Por isso impera radical individualismo, cada país buscando o seu bem particular por em cima do bem comum global, o que impede, nas Conferências da ONU, consensos e convergências na diversidade. E asssim, hilariantes e alienados, rumamos ao encontro de um abismo, cavado por nossa falta de razão sensível, de sabedoria e de sentido transcendente da existência.</font> <p align="justify"><font size="3">Com estas insuficiências conceptuais, jamais sairemos bem das crises que nos assolam. Este era o clamor da Cúpula dos Povos que apresentava alternativas de esperança. Na pior das hipóteses, a Terra poderá continuar mas sem nós. Que Deus não o permita, porque é “o soberano amante da vida” como atestam as Escrituras judaico-cristãs.</font> <p align="justify"><font size="3">*Leonardo Boff é autor de <em>O cuidado necessário, </em>Vozes, Petrópolis 2012.</font> <p align="right">Disponível em: <<a title="http://leonardoboff.wordpress.com/2012/07/01/insuficiencias-conceptuais-da-rio20/" href="http://leonardoboff.wordpress.com/2012/07/01/insuficiencias-conceptuais-da-rio20/">http://leonardoboff.wordpress.com/2012/07/01/insuficiencias-conceptuais-da-rio20/</a>> Acesso: 02 jul. 2012, 16:23</p> Irenaldo Araújohttp://www.blogger.com/profile/07086602500925288872noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-5626154085244349829.post-276784324792169492012-06-30T19:52:00.001-03:002012-06-30T19:52:26.961-03:00Estamos para a luta...<p align="right"><font size="3">Irenaldo Pereira de Araújo</font></p> <p><font size="3">Em dias de convenções em vários municípios brasileiros, em vista das eleições de outubro próximo, sempre é necessária uma reflexão a partir do texto de Bertolt Brecht.</font></p> <blockquote> <p align="right"><font size="2">O pior analfabeto é o analfabeto político. Ele não ouve, não fala, nem participa dos acontecimentos políticos. Ele não sabe o custo de vida, o preço do feijão, do peixe, da farinha, do aluguel, do sapato e do remédio dependem das decisões políticas.<br>O analfabeto político é tão burro que se orgulha e estufa o peito dizendo que odeia a política. Não sabe o imbecil que, da sua ignorância política, nasce a prostituta, o menor abandonado, e o pior de todos os bandidos, que é o político vigarista, pilantra, corrupto e lacaio das empresas nacionais e multinacionais.</font></p> <p align="right"><font size="2">Bertolt Brecht</font></p> <p align="justify"><font size="3">Diante do texto de Brecht fico a contemplar algumas situações bem próximas de cada um de nós. Como fruto da minha contemplação, faço a seguinte reflexão...</font></p> <p align="justify"><font size="3">Quando paramos para ver a música que faz sucesso. Quando olhamos as coreografias e os passos ensaiados das grandes massas em festas populares. Quando observamos o consumo exagerado de drogas lícitas e ilícitas. Quando as pessoas não mais se sensibilizam com situações de fome, violência, miséria. Quando migram a política para o emocional. Quando o belo passa a ser o consumo exagerado de bebida alcoólica. Quando a rebeldia da juventude nas ruas lutando por mudanças é trocada pelo amanhecer embriagada e domindo nas calçadas (sarjetas). Quando nas igrejas se fala mais no demônio, cantam-se canções aleluiáticas e se dançam passos sicronizados em nome do Senhor. Quando governantes roubam descaradamente o dinheiro público e a população encara com naturalidade e os órgãos de fiscalização não encontram meios para punir os responsáveis... </font></p> <p align="justify"><font size="3">Parece que chegamos ao caos. Neste sentido, as pessoas têm olhos, mas não enchergam; são dotadas de razão, mas não a utilizam; têm boca, mas não denunciam...</font></p> <p align="justify"><font size="3">Quero acreditar que nada disso acontece por acaso. Os poderes hegemônicos, em muitas situações fianciados pela elite dominante, investem pensado em tudo isso para que o povo fique "deitado eternamente em berço explêndido".</font></p> <p align="justify"><font size="3">Mas, diante de tudo isso, insisto em acreditar: na rebeldia e na força criadora da juventude; na força transformadora da mulher; na resistência dos povos organizados; no poder político da sociedade civil organizada; na mobilização para a implementação de políticas públicas... Estou convencido... é preciso acreditar na força criadora de um povo organizado. VAMOS A LUTA COMPANHEIRADA!</font></p></blockquote> Irenaldo Araújohttp://www.blogger.com/profile/07086602500925288872noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-5626154085244349829.post-73855030447004942152012-06-28T10:19:00.001-03:002012-06-28T10:19:50.804-03:00Golpe Paraguaio<p align="justify"><font size="3">Amigos! Amigas!</font></p> <p align="justify"><font size="3">Independentemente da avaliação política que se tenha acerca da gestão Lugo, do Paraguai, salta aos olhos a estratégia vulpina utilizada pelas forças da Direita, para destituir, de modo sumário, o presidente daquela República não tão republicana - como tantas outras, aliás!.</font></p> <p align="justify"><font size="3">Enquanto a quase totalidade dos chefes de Estado da vizinhança manifestava seu desacordo ou desconfiança em relação a uma decisão que mais se aproxima de um golpe de Estado do que de um rito democrático, apressa-se o Vaticano em reconhecer o novo governo... "Similia similibus", diz a sabedora popular: os semelhantes se parecem!</font></p> <p align="justify"><font size="3">Uma notícia dessas corresponde apenas à ponta do "iceberg" da política do Vaticano.</font></p> <p align="justify"><font size="3">Não bastasse a interminável onda de graves escândalos em que o Vaticano vive mergulhado, em claro desserviço da causa do Evangelho, cujo espírito se mostra claramente, por ex., em Mc 10, 42-45: os chefes das nações se organizam uns mandando sobre os outros, não seja assim entre vocês. Como daí deduzir-se qualquer recomendação de tornar a Igreja um Estado? E que Estado!</font></p> <p align="justify"><font size="3">Anima-nos acompanhar, com firmeza e esperança, a crescente resistência que se espalha sobre o mundo católico, em busca de uma Igreja fiel ao Seguimento de Jesus, profética, missionária, solidária da causa do povo dos pobres, e longe dos palácios!</font></p> <p align="justify"><font size="3">Cordialmente,</font></p> <p align="justify"><font size="3">Alder</font></p> <p><font size="2">Texto partilhado pelo Prof. Alder Júlio Calado (</font><a href="mailto:aldercalado@gmail.com">aldercalado@gmail.com</a> )</p> Irenaldo Araújohttp://www.blogger.com/profile/07086602500925288872noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-5626154085244349829.post-49710422658227465792012-06-28T10:15:00.001-03:002012-06-28T10:15:59.224-03:00Millones de Católicos latinoamericanos estamos indignados ante el reconocimiento del Estado Vaticano al Golpe Paraguayo<p align="right"><font size="3">Miguel Matos s.j<br>Tf.0416.452.48.57<br>0251.443.48.17</font></p> <p align="justify"><font size="3">Es una verdadera verguenza para los católicos latinos el que haya sido el Estado Vaticano el primer estado que haya reconocido la ignominia que se cometió en Paraguay. Luego siguieron ¿cuándo no ? el "perfectamente predecible " Rajoy y la "plutócrtata " Angela Merkel.</font></p> <p align="justify"><font size="3">El Nuncio de Su Santidad Mons.Eliseo Arrioti fue el primero en visitar al impostor Franco con estas palabras: "He venido a honrar a las autoridades paraguayas".</font></p> <p align="justify"><font size="3">Esta es una verdadera "cachetada" en el rostro de un continente que mayoritariamente está condenando la fechoría de la burguesía paraguaya a sabiendas que este estilo de golpes de Estado "suaves", con "fachada leguleya" son los que se están ensayando en nuestro continente. Esto , además de su sabor a "venganza" contra Lugo, confirma la complicidad de esa jerarquía con los sectores más reaccionarios. El Vaticano ni siquiera se permitió esperar los resultados de la próxima reunión de Lima.</font></p> <p align="justify"><font size="3">Verdaderamente ya las situaciones por las que nos hace pasar esta institucionlidad vaticana casi superan los límites de la más elemental paciencia y comprensión cristiana. No tenemos ni para qué recordarlas. </font></p> <p align="justify"><font size="3">Que no se intenten, por favor , defensas montadas con argumentos represivos basados en la autoridad. Frente a la verdad no deberían activarse componendas apoyadas en el poder.</font></p> <p align="justify"><font size="3">De los que podríamos esperar en el mundo católico, algunas reacciones de protesta, ya sabemos que están sumidos desde hace tiempo en un silencio por lo menos desconcertante.¿Nada qué decir o mucho qué ocultar ?</font></p> <p align="justify"><font size="3">La pregunta es . ¿hasta cuándo habrá que callar ? ¿hasta cuándo seguirán "mirando hacia otro lado"?</font></p> <p align="justify"><font size="3">Ambientándonos en la liturgia de hoy , me atrevo a preguntar: ¿Jesús de Nazareth habría ido a congraciarse con Herodes una vez que éste le cortó la cabeza de Juan el Bautista ?</font></p> <p><font size="3">--<br></font><font size="2">Texto partilhado pelo Prof. Alder Calado <a href="mailto:aldercalado@gmail.com">aldercalado@gmail.com</a></font></p> Irenaldo Araújohttp://www.blogger.com/profile/07086602500925288872noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-5626154085244349829.post-84765486172003395392012-06-28T10:00:00.001-03:002012-06-28T10:04:40.911-03:00Estômago e política<p align="right"><font size="3">EduardoHoornaert</font></p> <p align="justify"><font size="3">Na sexta-feira, 22 de junho, o presidente do Paraguay, Fernando Lugo, foi destituído do governo por um processo sumário de impeachment longamente preparado e articulado pelo poder legislativo daquele país. Esse acontecimento me leva a refletir sobre a relação entre estômago e política. A muitos, essa relação deve parecer estranha, mas ela é muito real. Pois o fato é que o presidente Lugo, por mais que o desejasse, não conseguiu alimentar o estômago dos paraguaios mais pobres. Eis o que declarou, no dia 26 de junho, um dos líderes dos ‘carperos’(os ‘sem terra’ do Paraguay): ‘A gente mede qualquer decisão do governo através do estômago’. </font></p> <p align="justify"><font size="3">Ao longo dos três anos de seu governo, Lugo não tinha condições de encher o estômago dos paraguaios, pois ficou preso nas teias de um sistema político que lhe eraa dverso. Ele ficou sem apoio por parte do congresso nacional, majoritariamente composto de latifundiários ou seus representantes. Por sinal, a maioria das boas terras do Paraguay está nas mãos de brasileiros, que, antes do governo de Lugo, foram se aproveitando das oportunidades excepcionais de fazer agro-negócio numa terra praticamente sem lei. Foram esses brasileiros que, juntamente com os latifundiários paraguaios, ‘cozinharam’ lentamente a panelade pressão que chegou ao ponto de fervura no dia 22 de junho e resultou naviolenta ejeção de Lugo da cadeira presidencial. Os mesmos hoje se apressam atentar justificar a legitimidade do governo golpista. </font></p> <p align="justify"><font size="3">Ao ler os noticiários sobre esses tristes acontecimentos no Paraguay, lembro-me deuma declaração do político inglês Churchill, durante a segunda guerra mundial: ‘os governos sempre tomam as decisões erradas, até o momento em que se atinge o estômago das pessoas. Aí as coisas mudam rapidamente’. Na segunda guerra mundial, os ingleses só se uniram contra a ameaça nazista depois de sentir no estômago o que estava acontecendo.</font></p> <p align="justify"><font size="3">Essa relação entre estômago e política nos mostra a precariedade do sistema políticohoje vigente no mundo inteiro. Esse sistema pensa em dinheiro, não em estômago. Pensa-se em preservar os bancos, ou seja, o sistema de lucro que hoje toma conta do mundo. Isso vai continuar até o momento em que o estômago das pessoas é atingido diretamente. Aí pode haver uma explosão de resultados imprevisíveis. Pois a história ensina que as reações do estômago são perigosas. É como resposta ao grito do estômago dos alemães que Hitler conseguiu subir ao podernos anos 1930. Oxalá o mundo de amanhã encontre figuras como Churchill, Adenauer e outros, que conseguem pensar no estômago das pessoas e fazer política para alimentar as bocas das pessoas, não as caixas dos bancos. Nosso futuro é ao mesmo tempo fascinante e ameaçador, ele pode dar no melhor ou no pior. </font></p> <p align="justify"><font size="3">É aqui que entra o cristianismo. O que se lamenta, neste momento, é o silêncio das autoridades eclesiásticas. Elas não parecem preocupadas com o estômago das pessoas, pensam em outros assuntos. Para o papa de hoje, parece que as pessoas não têm estômago. Ele só fala nos perigos do ‘relativismo’, da ‘secularização’,das ‘seitas’, como fica claro na programação do próximo sínodo dos bispos a ser celebrado em Roma no mês de outubro. Onde está o papa João XXIII? Na noite dodia 11 de outubro de 1962 (faz 50 anos!), depois de anunciar pela manhã a abertura do concílio Vaticano II, ele falou à multidão que estava reunida na Praça São Pedro e significativamente pensou no dia-a-dia das pessoas. Ele disse as seguintes palavras: ‘Voltando para casa, vocês encontrarão as crianças. Façam-lhes uma carícia e digam-lhes: Esta é a carícia do papa’. Eis o que nos falta hoje: a carícia de um papa que pensa no estômago da gente! Quem quiser conhecermelhor esse memorável discurso de João XXIII, consulte os trabalhos do padre José Oscar Beozzo pelo Google. A carícia do papa no rosto das crianças! O papa se sente bem quando pensa que as crianças dormem bem, ‘de estômago cheio’. Hoje, somos carentes dessas palavras. Nunca mais ouvimos palavras desse tipo saindo de Roma. Penso que o papa João XXIII foi o último papa em pensar em carícia, beijo, estômago, boca e corpo, ou seja, nas necessidades básicas das pessoas, em vez de pensar na preservação de seu poder.</font> </p> <p align="justify"><font size="2">Compartilhamos um texto enviado por Eduardo Hoornaert, a quem agradecemos. Ele nos propõe uma reflexão sobre o recente golpe de Estado, no Paraguai. Dentre os pontos aí focados, dois deles me chamaram particularmente a atenção: por que será que os chamados "Brasiguayos" apressaram-se em defender o novo presidente? Quanta diferença entre o lado amoroso de um João XXIII e a atual postura eclesiástica: insensível em relação às dores e sofrimentos dos humanos... </font></p> <p><font size="2">Cordialmente, </font></p> <p><font size="2">Alder Julio Calado <a href="mailto:aldercalado@gmail.com">aldercalado@gmail.com</a></font></p> Irenaldo Araújohttp://www.blogger.com/profile/07086602500925288872noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-5626154085244349829.post-54443445665735193282012-06-04T14:41:00.001-03:002012-06-04T14:41:47.342-03:00Economia verde verus Economia solidária<p>04/06/2012 <p align="right"><font size="3">Leonardo Boff</font> <p align="justify"><font size="3">O Documento Zero da ONU para a Rio+20 é ainda refém do velho paradigma da dominação da natureza para extrair dela os maiores benefícios possíveis para os negócios e para o mercado. Através dele e nele o ser humano deve buscar os meios de sua vida e subsistência. A economia verde radicaliza esta tendência, pois como escreveu o diplomata e ecologista boliviano Pablo Solón “ela busca não apenas mercantilizar a madeira das florestas mas também sua capacidade de absorção de dióxido de carbono”. Tudo isso pode se transformar em bonos negociáveis pelo mercado e pelos bancos. Destarte o texto se revela definitivamente antropocêntrico como se tudo se destinasse ao uso exclusivo dos humanos e a Terra tivesse criado somente a eles e não a outros seres vivos que exigem também sustentabilidade das condições ecológicas para a sua permanência neste planeta.<br>Resumidamente: “O futuro que queremos”, lema central do documento da ONU, não é outra coisa que o prolongamento do presente. Este se apresenta ameaçador e nega um futuro de esperança. Num contexto destes, nãoavançar é retroceder e fechar as portas para o novo.<br>Há outrossim um agravante: todo o texto gira ao redor da economia. Por mais que a pintemos de marron ou de verde, ela guarda sempre sua lógica interna que seformula nesta pergunta: quanto posso ganhar no tempo mais curto, com o investimento menor possível, mantendo forte a concorrência? Não sejamos ingênuos: o negócio da economia vigente é o negócio. Ela não propõe uma nova relação para com a natureza, sentindo-se parte dela e responsável por sua vitalidade e integridade. Antes, move-lhe uma guerra total, como denuncia o filósofo da ecologia Michel Serres. Nesta guerra nãopossuimos nenuma chance de vitória. Ela ignora nossos intentos. Segue seu curso mesmo sem a nossa presença. Tarefa da inteligência é decifrar o que ela nosquer dizer (pelos eventos extremos, pelos tsunamis etc), defender-nos de efeitos maléficos e colocar suas energias a nosso favor. Ela nos oferece informações mas não nos dita comportamentos. Estes devem se inventados por nós mesmos. Eles somente serão bons caso estiverem em conformidade com seus ritmos e ciclos.<br>Como alternativa a esta economia de devastação, precisamos, se queremos ter futuro, opor-lhe outro paradigma de economia de preservação, conservação e sustentação de toda a vida. Precisamos produzir sim, mas a partir dos bens e serviços que a natureza nos oferece gratuitamente, respeitando o alcance e os limites de cada bioregião, destribuindo com equidade os frutos alcançados, pensando nos direitos das gerações futuras e nos demais seres da comunidade de vida. Ela ganha corpo hoje através da economia biocentrada, solidária, agroecológica, familiar e orgânica. Nela cada comunidade busca garantir sua soberania alimentar. Produz o que consome, articulando produtores e consumodres numa verdadeira democracia alimentar.<br>A Rio 92 consagrou o conceito antropocêntrico e reducionista de desenvolvimento sustentável, elaborado pelo relatório Brundland de 1987 da ONU. Ele se transformou num dogma professado pelos documentos oficiais, pelos Estados e empresas sem nunca ser submetido a uma crítica séria. Ele sequestrou a sustentabilidade só para seu campo e assim distorceu as relações para com a natureza. Os desastres que causava nela, eram vistos como externalidades que não cabia considerar. Ocorre que estas se tornaram ameaçadoras, capazes de destruir as bases físico-químicas que sustentam a vida humana e grande parte da biosfera.</font></p> <p align="justify"><font size="3">Isso não é superado pela ecocomia verde. Ela configura uma armadilha dos países ricos, especialmente da OCDE (Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Econômico) que produziu o texto teórico do PNUMA Iniciativa da Economa Verde. Com isso, astutamente descartam a discussão sobre a sustentabilidade, a injustiça social e ecológica, o aquecimento global, o modelo econômico falido e mudança de olhar sobre o planeta que possa projetar um real futuro para a Humanidade e para a Terra.<br>Junto com a Rio+20 seria um ganho resgatar também a Estocolmo+40. Nesta primeira conferência mundial da ONU de 5-15 de julho de1972 em Estocolmo na Suécia sobre o Ambiente Humano, o foco central não era o desenvolvimento mas o cuidado e a responsabilidade coletiva por tudo o que nos cerca e que está em acelerado processo de degradação, afetando a todos e especialmente aos países pobres. Era uma perspectiva humanística e generosa. Ela se perdeu com a cartilha fechada do desenvolvimento sustentável e agora com a economia verde.</font></p> <p align="justify"><font size="3">Leonardo Boff é autor de “Sustentabilidade: o que é e o que não é”, Vozes 2012.</font> <p align="justify"><font size="3"></font> <p align="right">Disponível em: <<a href="http://leonardoboff.wordpress.com/2012/06/04/economia-verde-verus-economia-solidaria/">http://leonardoboff.wordpress.com/2012/06/04/economia-verde-verus-economia-solidaria/</a>> Acesso: 04 jun 2012, 14:41</p> Irenaldo Araújohttp://www.blogger.com/profile/07086602500925288872noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-5626154085244349829.post-4716505539881540522012-06-01T09:01:00.001-03:002012-06-01T09:01:43.889-03:00A ausência de uma Nova Narrativa na Rio+20<p>31/05/2012 <p align="right">Leonardo Boff <p align="justify"><font size="3">O vazio básico do documento da ONU para a Rio+20 reside numa completa ausência de uma nova narrativa ou de uma nova cosmologia que poderia garantir a esperança de um “futuro que queremos” lema do grande encontro. Assim como está, nega qualquer futuro promissor.</font> <p align="justify"><font size="3">Para seus formuladores, o futuro depende da economia, pouco importa o adjetivo que se lhe agregue: sustentável ou verde. Especialmente a economia verde opera o grande assalto ao último reduto da natureza: transformar em mercadoria e colocar preço àquilo que é comum, natural, vital e insubstituível para a vida como a água, solos, fertilidade, florestas, genes etc. O que pertence à vida é sagrado e não pode ir para o mercado dos negócios. Mas está indo, sob o imperativo categórico: apropia-te de tudo, faça comércio com tudo , especialmente com a natureza e com seus bens e serviços.</font> <p align="justify"><font size="3">Eis aqui o supremo egocentrismo e a arrogância dos seres humanos, chamado também de antropocentrismo. Estes veem a Terra como um armazém de recursos só para eles, sem se dar conta de que não somos os únicos a habitar a Terra nem somos seus proprietários; não nos sentimos parte da natureza, mas fora e acima dela como seus “mestres e donos”. Esquecemos, entretanto, que existe toda a comunidade de vida visível (5% da biosfera) e os quintilhões de quintilhões de microrganismos invisíveis (95%) que garantem a vitalidade e fecundidade da Terra. Todos estes pertencem ao condomínio Terra e têm direito de viver e conviver conosco. Sem as relações de interdependência com eles, sequer poderíamos existir. O documento desconsidera tudo isso.</font> <p align="justify"><font size="3">Podemos então dizer: Com ele não há salvação. Ele abre o caminho para o abismo. Enquanto tivermos tempo, urge evitá-lo.</font> <p align="justify"><font size="3">Tal vazio se deriva da velha narrativa ou cosmologia. Por narrativa ou cosmologia entendemos a visão do mundo que subjaz às idéias, às práticas, aos hábitos e aos sonhos de uma sociedade. Por ela se procura explicar a origem, a evolução e o propósito do universo, da história e o lugar do ser humano.</font> <p align="justify"><font size="3">A nossa atual é a narrativa ou a cosmologia da conquista do mundo em vista do progresso e do crescimento ilimitado. Caracteriza-se por ser mecanicista, determinística, atomística e reducionista. Por força desta narrativa 20% da população mundial controla e consome 80% de todos os recursos naturais; metade das grandes florestas foram destruídas, 65% das terras agricultáveis, perdidas, cerca de 27 a cem mil espécies de seres vivos desaparecem por ano (Wilson) e mais de mil agentes químicos sintéticos, a maioria tóxicos, são lançados na natureza. Construímos armas de destruição em massa, capazes de eliminar toda vida humana.</font> <p align="justify"><font size="3">O efeito final é o desequilíbrio do sistema-Terra que se expressa pelo aquecimento global. Com os gases já acumulados, até 2035 fatalmente se chegará a 3-4 graus Celsius, o que tornará a vida, assim como a conhecemos praticamente impossível.<br>A atual crise econômico-financeira que mergulha nações inteiras na miséria nos fazem perder a percepção do risco e conspiram contra qualquer mudança necessária de rumo.</font></p> <p align="justify"><font size="3">Em contraposição, surge a narrativa ou a cosmologia do cuidado e da responsabilidade universal, potencialmente salvadora. Ela ganhou sua melhor expressão na Carta da Terra. Situa nossa realidade dentro da cosmogênese, aquele imenso processo de evolução que se iniciou há 13,7 bilhões de anos. O universo está continuamente se expandindo, se auto-organizando e se autocriando. Nele tudo é relação em redes e nada existe fora desta relação. Por isso todos os seres são interdependentes e colaboram entre si para garantirem o equilíbrio de todos os fatores. Missão humana reside em cuidar e manter essa harmonia sinfônica.</font> <p align="justify"><font size="3">Precisamos produzir, não para a acumulação e enriquecimento privado mas para o suficiente e decente para todos, respeitando os limites e ciclos da natureza.<br>Por detrás de todos os seres atua a Energia de fundo que deu origem e sustenta o universo permitindo emergências novas. A mais espetacular delas é a Terra viva e os humanos como a porção consciente dela, com a missão de cuidá-la e de responsabilizar-se por ela.</font></p> <p align="justify"><font size="3">Esta nova narrativa garante “o futuro que queremos”. Do contrário seremos empurrados fatalmente ao caos coletivo com consequências funestas. Ela se revela inspiradora. Ao invés de fazer negócios com a natureza, nos colocamos no seio dela em profunda sintonia e sinergia, respeitando seus limites e buscando o “bem viver” que é a harmonia entre todos e com a mãe Terra.</font> <p align="justify"><font size="3">Característica desta nova cosmologia é o cuidado no lugar da dominação, o reconhecimento do valor intrínseco de cada ser e não sua mera utilização humana, o respeito por toda a vida e dos direitos da natureza e não sua exploração e a articulação da justiça ecológica com a social.</font> <p align="justify"><font size="3">Esta narrativa está mais de acordo com as reais necessidades humanas e com a lógica do próprio universo. Se o documento Rio+20 a adotasse, como pano de fundo, criar-se-ia a oportunidade de uma civilização planetária na qual o cuidado, a cooperação, o amor, o respeito, a alegria e espiritualidade ganhariam centralidade.</font> <p align="justify"><font size="3">Tal opção apontaria, não para o abismo, mas para o “o futuro que queremos”: uma biocivilização da boa esperança.</font> <p align="justify"><font size="3">Leonardo Boff é autor com Mark Hathaway de O Tao da Libertação: a ecologia da transformação, Vozes 2012.</font> <p align="right">Disponível em: <<a href="http://leonardoboff.wordpress.com/2012/05/31/a-ausencia-de-uma-nova-narrativa-na-rio20/">http://leonardoboff.wordpress.com/2012/05/31/a-ausencia-de-uma-nova-narrativa-na-rio20/</a>> Acesso: 01 jun 2012, 09:00</p> Irenaldo Araújohttp://www.blogger.com/profile/07086602500925288872noreply@blogger.com0